In Público, 12 de Dezembro de 2002.
Fundação Luís Miguel Nava
Fundação Luís Miguel Nava
Prémios de Poesia para Manuel Gusmão e Armando Silva Carvalho
Alexandra Lucas Coelho
Distinções relativas a 2001 e 2000, para os livros "Teatros do Tempo" e "Lisboas"
"Teatros do Tempo", de Manuel Gusmão, e "Lisboas", de Armando Silva Carvalho, foram os livros distinguidos com os prémios de poesia Luís Miguel Nava relativos a 2001 e 2000, respectivamente.
"Teatros do Tempo", considerada pela crítica uma das mais importantes obras poéticas recentes, já recebera, há uma semana, o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores (APE).
Professor da Faculdade de Letras de Lisboa e autor de ensaios fundamentais sobre poesia portuguesa contemporânea, Manuel Gusmão estreou-se como poeta apenas aos 45 anos, em 1990, com "Dois Sóis, A Rosa a Arquitectura do Mundo". Seis anos depois, publicou "Mapas, o Assombro a Sombra". Mas foi com este "Teatros do Tempo" que o eco da sua obra (toda publicada na Caminho) se alargou. Além do bom acolhimento crítico, o livro esgotou e foi reeditado em poucos meses.
"Os prémios surpreendem-me, mas já me tinha surpreendido a recepção que o livro teve", diz Manuel Gusmão. "Admito que este livro seja mais motivador de uma resposta no plano emocional [do que os anteriores]. Sendo que não deixa de ser o livro mais construído. Talvez o apreço tenha a ver com essa dupla circunstância: a construção, evidente, e uma dimensão que produz um efeito de autobiografia - desde que se compreenda que a autobiografia passa sempre pela ficção."
Composto por três andamentos, "Teatros do Tempo" conflui para um núcleo intensamente negro, como um fim. Mas no fim, o que encontramos é uma possibilidade de recomeço: "Contra todas as evidências, em contrário, a alegria." Um verso, lembra Manuel Gusmão, que vários leitores, não especializados, têm vindo a citar. "Talvez este fosse o meu livro mais negro. E, por outro lado, sob a forma de um apelo, um livro que não desiste dessa palavra, alegria. Uma palavra que só adquire toda a sua força se passar pela dor. Quem não for capaz de ser queimado, num sentido amoroso, também não poderá queimar. Quem não for capaz de sustentar uma dor, tenderá a não perceber o lado intenso da alegria."
Adiante-se que este poeta tem já um novo "livro a caminho", em torno da ideia de migrações: "De um filme para outro filme ou para um poema, de cenas da pintura para um poema: segmentos verbais que importam imagens, sentimentos, experiências." Ainda sem nome, a estrutura de poemas com oito oitavas será uma das linhas fortes da construção desse livro futuro.
Para Gastão Cruz - que, com Fernando Pinto do Amaral, Carlos Mendes de Sousa, Paulo Teixeira e Helena Buescu, fez parte do júri do Prémio Luís Miguel Nava - "Teatros do Tempo" é "o momento mais alto" da poesia de Manuel Gusmão, o livro em que se apura "uma intensidade emocional da linguagem."
A cidade sonâmbula
Instituído em 1998 - homenageando o poeta Luís Miguel Nava, que fora assassinado em Bruxelas, três anos antes - este prémio, no valor de 5000 euros, contemplou já Sophia de Mello Breyner ("Búzio de Cós"), Fernando Echevarría ("Geórgicas"), António Franco Alexandre ("Quatro Caprichos") e Armando Silva Carvalho ("Lisboas").
Mas esta última distinção, referente a 2000, só foi anunciada ontem, em conjunto com a de Manuel Gusmão, porque entretanto esteve a ser negociado o patrocínio do prémio, que cabe ao BPI.
O júri para o prémio relativo a 2000 foi constituído pelos quatro membros da Fundação Luís Miguel Nava já referidos, com Paula Morão como convidada (tal como Helena Buescu, na edição referente ao ano passado).
"'Lisboas' é um dos principais livros de poesia publicados em 2000", sintetiza Gastão Cruz. "E é um livro representativo do estilo de Armando Silva Carvalho. Mistura uma abordagem crítica da realidade com uma poderosa invenção verbal. Julgo que é um dos picos da criação de um poeta que talvez não tenha tido a projecção que a poesia dele justificaria."
Para Armando Silva Carvalho, a relevância deste prémio começa no nome: "Faz-me lembrar o Luís Miguel Nava, de quem eu era muito amigo. Portanto, ao mesmo tempo fico triste. Ele foi das pessoas que mais se interessou pela minha poesia, e escreveu sobre ela."
Escrito com o apoio de uma bolsa de criação literária do Ministério da Cultura, "Lisboas" obedecia a um tema, previamente esboçado no projecto entregue a concurso. "O programa era um conjunto de poemas em relação à cidade", lembra Armando Silva Carvalho, lisboeta de São Domingos de Benfica. "Os climas, topografias, contrastes que fazem com que este cidade seja o que é, uma cidade de desvairadas gentes, como dizia o Fernão Lopes, mas agora com um carácter mais sórdido. Uma cidade exótica, no pior sentido, relativamente morta, em que as pessoas parecem deambular como sonâmbulas."
"Lisboas" está editado pela Quetzal.
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In Diário de Notícias . Lisboa · 04 de Dezembro de 2002
Grande Prémio de Poesia APE distingue obra de Manuel Gusmão
Teatros do Tempo, de Manuel Gusmão, editado pela Caminho, em 2001, acaba de ser distinguido com o Grande Prémio de Poesia APE/CTT. Trata-se de um galardão no valor de dez mil euros atribuído pela Associação Portuguesa de Escritores e integralmente patrocinado pelos CTT - Correios de Portugal.
O júri - que decidiu por unanimidade - era constituído por Alexandre Vargas, Carlos Mendes de Sousa, Ernesto José Rodrigues, Luís Adriano Carlos e Yvette Centeno. A cerimónia de entrega do Grande Prémio de Poesia será oportunamente divulgada. Manuel Gusmão foi já distinguido com o Prémio Pen Club de Poesia.
O autor, também professor universitário, tem publicados Dois Sóis, A Rosa e Mapas - o Assombro a Sombra. Mais recentemente, Os Dias Levantados, uma terceira versão do libreto da ópera de António Pinho Vargas, encomendado pelo Parque Expo para o Festival dos Cem Dias, que não coincide com nenhuma das duas anteriores. Tem reconhecida obra no domínio do ensaio, designadamente sobre Fernando Pessoa, Carlos de Oliveira, Nuno Bragança, Maria Velho da Costa, Luiza Neto Jorge e Gastão Cruz. Manuel Gusmão nasceu, em Évora, em Dezembro de 1945 e é professor na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Foi deputado na Assembleia Constituinte e na 1.ª legislatura da Assembleia da República, eleito pelo PCP.
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