2011-05-02

Salários de top no PSI 20

Os presidentes executivos das 20 maiores cotadas portuguesas viram o salário encolher 33 por cento durante o ano passado, em sintonia com o mais tímido crescimento dos lucros.
A remuneração total dos CEO ultrapassou os 15 milhões de euros, 34 por cento dos quais pagos em prémios, quando em 2009 o peso era de 47 por cento. Por dia, estes gestores ganharam 41.457 euros.

Zeinal Bava, da Portugal Telecom, foi o gestor mais bem pago e recebeu 1,4 milhões de euros num ano em que a PT aumentou os lucros 728 por cento, graças à venda da Vivo, que permitiu um encaixe de 5,5 mil milhões de euros. Tirou o lugar a António Mexia, líder da EDP, que em 2008 tinha recebido 3,1 milhões de euros devido ao facto de ter recebido prémios de desempenho acumulados de três anos. O CEO da EDP é, agora, o quinto executivo melhor remunerado do PSI 20.

A Galp pagou a Ferreira de Oliveira o segundo maior salário do índice bolsista (1,3 milhões de euros), mas o CEO não auferiu prémios. Face a 2009, a sua retribuição encolheu 15 por cento à custa de um corte na componente variável. Já o salário fixo manteve-se inalterado em 1,07 milhões de euros.

Na lista dos mais bem pagos, Ricardo Salgado, do Banco Espírito Santo (que tem uma nova política de remunerações), ocupa o terceiro lugar. Ganhou 1,2 milhões de euros e é um dos três executivos com maior peso do bónus no ordenado. Segue-se Paulo Azevedo, líder da Sonae, que ganhou 1,1 milhões de euros, 695 mil dos quais pagos como prémio.

Com crescimentos mais moderados, as cotadas retraíram-se na hora de pagar aos CEO. Os resultados líquidos do PSI20 atingiram os 10,2 mil milhões de euros, mas o lucro foi inflacionado pela alienação da posição da Portugal Telecom na Vivo, e a venda da participação da CCR por parte da Brisa.

Sem contar com estas operações, as cotadas conseguiram lucrar apenas mais 0,6 por cento o ano passado, atingindo os 4127 milhões de euros, sem interesses minoritários. Face aos lucros, os salários pagos em 2010 representaram 0,15 por cento (ver caixa).

Salário variável em queda

O peso dos prémios no bolo total passou de 47 por cento em 2009 para 34 por cento em 2010. E dos 20 gestores, oito não receberam bónus. Contudo, não significa que tenham auferido menos: a Inapa, liderada por José Félix Morgado, aumentou 15,3 por cento o ordenado fixo do CEO. Pelos cálculos do PÚBLICO, que se basearam nos relatórios e contas do PSI20, Zeinal Bava, Paulo Azevedo, Ricardo Salgado, Ângelo Paupério (Sonaecom) e Pedro Queiroz Pereira (Semapa) tiveram as remunerações variáveis mais elevadas, com valores que oscilaram entre os 553.599 euros e os 721.921 euros.

Ao mesmo tempo, oito CEO viram cair o seu salário total. A maior queda foi protagonizada por António Mexia (recebeu menos 66 por cento), seguido dos gestores que no ano passado lideraram a Cimpor. Ricardo Bayão Horta e Francisco Lacerda ganharam um total de 324.417 euros, menos 62 por cento.

Fora das contas da cimenteira portuguesa ficam ainda os valores recebidos por vários administradores a título de indemnização por terem deixado a empresa antes do final do mandato, como é o caso de Ricardo Bayão Horta, que aos 100,6 milhões recebidos até ao final de Abril juntou mais 820 milhões em compensações financeiras por sair antecipadamente. Em causa esteve uma forte recomposição accionista da Cimpor e a eleição de novos órgãos sociais.

Na Semapa, Pedro Queiroz Pereira auferiu perto de 984 mil euros, um decréscimo de 24 por cento, apesar de o lucro da empresa ter aumentado 60,7 por cento.

BCP, Brisa e REN sem bónus

Tal como no ano passado, Carlos Santos Ferreira, do BCP, não recebeu bónus e o seu salário total caiu 29 por cento. Na Brisa, e pelo segundo ano, Vasco de Mello, prescindiu de receber remuneração variável. O seu ordenado caiu dois por cento, para 483.181 euros, valor que inclui benefícios em complementos de reforma. O sector público também não teve direito a retribuição variável, por imposição governamental: Rui Cartaxo, CEO da REN, teve um salário de 340.151 euros, menos 0,45 por cento do que em 2009.

Na lista dos cinco presidentes executivos com o maior salário fixo, depois de Ferreira de Oliveira, António Mexia e Zeinal Bava, está Rodrigo Costa, o CEO da Zon que em 2010 ganhou 695.002 euros

As cotadas divulgaram em detalhe e de forma individualizada a remuneração dos presidentes e restantes administradores executivos pela primeira vez em 2009.

O tema é polémico e a imposição da Comissão de Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) continua a não agradar a todos. No seu relatório e contas, a Jerónimo Martins desabafa: "[O] melindre interno e externo que tal divulgação pode suscitar não contribui, na opinião do conselho de administração, para a melhoria de desempenho dos seus membros."

Carris: administração recebeu viaturas topo de gama em ano de buraco financeiro de 776,6 milhões. Carta de Marisa Moura

Exmos. Senhores José Manuel Silva Rodrigues, Fernando Jorge Moreira da Silva, Maria Isabel Antunes, Joaquim José Zeferino e Maria Adelina Rocha,

Chamo-me Marisa Sofia Duarte Moura e sou a contribuinte nº 215860101 da República Portuguesa. Venho por este meio colocar-vos, a cada um de vós, algumas perguntas:

Sabia que o aumento do seu vencimento e dos seus colegas, num total extra de 32 mil euros, fixado pela comissão de vencimentos numa altura em que a empresa apresenta prejuízos de 42,3 milhões e um buraco de 776,6 milhões de euros, representa um crime previsto na lei sob a figura de gestão danosa?

Terá o senhor(a) a mínima noção de que há mais de 600 mil pessoas desempregadas em Portugal neste momento por causa de gente como o senhor(a) que, sem qualquer moral, se pavoneia num dos automóveis de luxo que neste momento custam 4.500 euros por mês a todos os contribuintes?

A dívida do país está acima dos 150 mil milhões de euros, o que significa que eu estou endividada em 15 mil euros. Paguei em impostos no ano passado 10 mil euros. Não chega nem para a minha parte da dívida colectiva. E com pessoas como o senhor(a) a esbanjar desta forma o meu dinheiro, os impostos dos contribuintes não vão chegar nunca para pagar o que realmente devem pagar: o bem-estar colectivo.

A sua cara está publicada no site da empresa. Todos os portugueses sabem, portanto, quem é. Hoje, quando parar num semáforo vermelho, conseguirá enfentar o olhar do condutor ao lado estando o senhor(a) ao volante de uma viatura paga com dinheiro que a sua empresa não tem e que é paga às custas da fome de milhares de pessoas, velhos, adultos, jovens e crianças?

Para o senhor auferir do seu vencimento, agora aumentado ilegalmente, e demais regalias, há 900 mil pessoas a trabalhar (inclusive em empresas estatais como a "sua") sem sequer terem direito a Baixa se ficarem doentes, porque trabalham a recibos verdes. Alguma vez pensou nisso? Acha genuinamente que o trabalho que desempenha tem de ser tamanhamente bem remunerado ao ponto de se sobrepor às mais elementares necessidades de outros seres humanos?

Despeço-me sem grande consideração, mas com alguma pena da sua pessoa e com esperança que consiga reactivar alguns genes da espécie humana que terá com certeza perdido algures no decorrer da sua vida.

Marisa Moura
» Notícia que originou este meu mail em http://economia.publico.pt/Noticia/carris-administracao-recebeu-viaturas-topo-de-gama-em-ano-de-buraco-financeiro-de-7766-milhoes_1487820

Reproduzido a seguir

01.04.2011 - 10:03 Por PÚBLICO (Link)
A Carris alugou no ano passado quatro novas viaturas topo de gama para o seu presidente e administradores, suportando um valor de cerca de 4500 euros mensais com o aluguer dos veículos. A empresa pública, que tem 2010 teve capitais negativos de 776,6 milhões de euros, explica que a decisão cumpre o estabelecido pela Comissão de Fixação de Vencimentos
O relatório de contas da Carris de 2010, citado pela edição de hoje do “Correio da Manhã”, indica que o presidente da Carris, José Manuel Silva Rodrigues, e os vogais da administração Fernando Jorge Moreira da Silva, Maria Isabel Antunes e Joaquim José Zeferino receberam as quatro viaturas das marcas Mercedes, Audi e BMW no ano passado. A acrescentar a esta lista há a viatura da também administradora Maria Adelina Rocha, que conduz uma viatura paga pela empresa desde 2008.

Ao diário, a Carris indicou que os veículos foram “alugados em substituição de viaturas entretanto abatidas” e que “todas as viaturas estão regime de ALD [Aluguer de Longa Duração]”. De acordo com a empresa, o “valor mensal das rendas pagas, para as cinco viaturas, em 2010, foi de 4514 euros”, incluindo manutenção e seguro. O valor comercial das viaturas ronda os 176 mil euros. A empresa sublinha que o aluguer foi feito “em cumprimento escrupuloso do determinado pela Comissão de Fixação de Vencimentos”.

Esta semana foi divulgado que os capitais próprios da Carris estão negativos em 776,6 milhões de euros e que a administração da empresa pública teve um aumento nos vencimentos em 2010. O resultado líquido da Carris foi novamente negativo no ano passado, agravando-se para 42,3 milhões de euros.

Quanto aos custos com pessoal, a administração da Carris recebeu um total de 420.556 euros em 2010, traduzindo-se num aumento nos vencimentos dos cargos de topo de quase 33 mil euros em comparação a 2009, apesar dos cortes salariais decididos na administração pública. O presidente da Carris aufere mensalmente 6577 euros brutos. Cada vogal da administração 5727 euros.

Catos



Maior ampliação aqui

2011-05-01

Angelo Sodano ex- secretário de Estado da Santa Sé

O ex-número dois do Vaticano vive seus piores dias ao aparecer como um dos responsáveis pelo encobrimento da pedofilia.
O anterior secretário de Estado da Santa Sé, Angelo Sodano, de 82 anos, que foi um dos homens mais poderosos do Vaticano com João Paulo II, passou para um segundo plano ao deixar o cargo em 2006, embora seja decano do Colégio Cardinalício, mas seu nome reaparece cada vez mais por algo nada bom.
Com ele, está surgindo a parte escura do pontificado de Wojtyla, daquele que foi o "número dois" durante 14 anos e que personificava a Cúria mais palaciana e maquinadora. Na realidade, olhando para trás, mais do que o seu currículo, surpreende a simpatia de Sodano com alguns criminosos. De Pinochet a Maciel.

A reportagem é de Íñigo Domínguez, publicada no jornal Diario Vasco, 16-05-2010. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

A principal acusação contra o Vaticano no escândalo da pedofilia é a de ter encoberto os culpados nas últimas décadas. À medida que mais se fica sabendo, Bento XVI, então prefeito da Doutrina da Fé desde 1981, sai com uma imagem melhor, como alguém que tentou abordar de forma inflexível as denúncias, diante de outro setor da Cúria, mais poderoso, que optava por escondê-las.

Como Ratzinger disse, em 1995, amargurado, ao se ver impedido de agir no escândalo do cardeal de Viena, Hermann Groër, "venceu o outro lado". Ele confessou isso ao então cardeal Christoph Schönborn, que revelou isso para desmentir a suposta conivência de Bento XVI nos abusos. Mas Schönborn acrescentou, há uma semana, que "o outro lado" era capitaneado por Angelo Sodano, em uma disputa interna sem precedentes no Vaticano, que saiu à luz pública. Isso dá uma ideia das profundidades que a crise está removendo.

Mas a mácula mais grave de Sodano é a de ter sido o protetor do mexicano Marcial Maciel, fundador dos Legionários de Cristo, ordem ultraconservadora potencializada por Wojtyla, que, no entanto, é agora considerado pela Santa Sé como "um delinquente sem escrúpulos". Após a investigação ordenada por Bento XVI, sabe-se que ele era um pedófilo, tinha duas mulheres, três filhos, mantinha três identidades diferentes e manejava fundos milionários. Havia denúncias contra ele no Vaticano, mas, graças a Sodano, foram engavetadas.

Doações por proteção

O jornal National Catholic Reporter, prestigiosa publicação católica norte-americana, publicou uma demolidora investigação que denuncia como Maciel havia comprado sua proteção em Roma com doações a Sodano e a outros pesos pesados da velha guarda de João Paulo II, como seu secretário pessoal, Stanislao Dziwisz, atual arcebispo de Cracóvia, e o espanhol Eduardo Martínez Somalo.

O jornal assegura que Maciel pagou a Sodano 10.000 dólares por uma palestra e lhe organizou um banquete de 200 convidados pela sua nomeação como cardeal em 1991. Maciel também contratou um sobrinho de Sodano, Andrea, engenheiro, para a construção da fastuosa universidade da ordem em Roma. Outra reputada publicação, America, dos jesuítas norte-americanos, reagiu assim: "Há um cardeal cuja cabeça deve rolar: Sodano".

É um ocaso inesperado para quem mandava tanto e, por exemplo, controlava uma boa bolsa de votos no último conclave. Mas, além disso, joga sombras sobre o mandato de João Paulo II que, de fato, já estão freando sua beatificação. Sodano, piemontês de boa família democrata-cristã, com seu pai deputado, era um dos tantos italianos vivos da Cúria que cresceram lentamente em Roma.

Ele começou na carreira diplomática e foi núncio no Chile durante a ditadura de Pinochet. Tinha com ele uma amistosa relação e foi um dos artífices da polêmica visita de João Paulo II ao país em 1987. Nela, ocorreu a famosa armadilha a Wojtyla (foto), pois lhe indicaram uma porta atrás de uma cortina e ele apareceu de repente com o ditador em uma sacada, onde os fotógrafos lhe esperavam.

No entanto, alguma coisa do carácter opaco e sinuoso de Sodano deve ter agradado João Paulo II, que lhe nomeou secretário de Estado em 1991. Em 1999, Sodano ainda se lembrava de seu amigo Pinochet e interveio em sua defesa "por razões humanitárias", quando ele foi detido em Londres. "A Santa Sé está na primeira linha quando se trata de defender os direitos do homem em qualquer área", alegou Sodano.

Em 1994, um delinquente bem próximo de Sodano, seu próprio irmão, Alessandro, foi condenado por corrupção na operação italiana Mãos Limpas. E foi ainda mais gritante, em 2008, o caso de seu sobrinho Andrea, o engenheiro. Ele era sócio de Raffaello Follieri, um executivo e playboy caloteiro que se fazia passar pelo representante do Vaticano nos Estados Unidos. Era jovem, milionário, amigo de Bill Clinton, e sua namorada era a atriz Anna Hathaway, até que foi pego pelo FBI e ficou preso durante quatro anos. Tiveram uma ideia curiosa para fazer dinheiro: comprar a um bom preço as propriedades imobiliárias das dioceses norte-americanas em falência por causa do escândalo da pedofilia.

Para ler mais:

•Depois do ataque de Viena, ''Sodano deve ir embora''
•Schönborn ataca Sodano: ''Ele não quis investigar Groër''
•O choque entre duas linhas do Vaticano
•O escândalo da pedofilia e o choque entre cardeais
•Cardeal de Viena acusa Sodano de encobrir abusos e impedir investigação
•Cardeal Schönborn ataca Sodano e exige reformas
•Vaticano, em busca de uma saída estratégica, se confia a Sodano
•Os mistérios não resolvidos da era Sodano

2011-04-18

Explicar o BCE na esplanada do café

A Primavera esmerou-se. Um sol agradável acariciava-nos na esplanada do café à beira da minha porta. A chegada do Senhor Antunes, o mais popular dos meus vizinhos, deu ensejo a uma lição sobre Europas e finanças a nós todos que disto pouco ou nada percebemos.
- Oh Sô Antunes explique lá isso do Banco Central Europeu, aqui à rapaziada do Café!
- Então vá, vá lá, só por esta vez. O BCE é o banco central dos Estados da União Europeia, como é o caso de Portugal.
- E donde veio o dinheiro do BCE?
- O capital social, o dinheiro do BCE, é dinheiro de nós todos, cidadãos da UE, na proporção da riqueza de cada país. Assim à Alemanha correspondeu 20% do total. Os 17 países da UE que aderiram ao euro entraram no conjunto com 70% do capital social e os restantes 10 dos 27 Estados da UE contribuíram com 30%.
- E é muito, esse dinheiro?
- O capital social era 5,8 mil milhões de euros mas no fim do ano passado, em Dezembro de 2010, foi decidido fazer o 1º aumento de capital desde que há cerca de 12 anos o BCE foi criado, em três fases. No fim de 2010, no fim de 2011 e no fim de 2012 até elevar a 10,6 mil milhões o capital do banco.
- Então se o BCE é o banco destes Estados pode emprestar dinheiro a Portugal, não? Como qualquer banco pode emprestar dinheiro a um ou outro dos seus accionistas.
- Não, não pode.
- ??
- Porquê? Porque... porque, bem... são as regras.
- Então a quem pode o BCE emprestar dinheiro?
- A outros bancos, já se vê, a bancos alemães, bancos franceses ou portugueses.
- Ah percebo, então Portugal, ou a Alemanha, quando precisa de dinheiro emprestado não vai ao BCE, vai aos outros bancos que por sua vez vão ao BCE e tal.
- Pois.
- Mas para quê complicar? Não era melhor Portugal ou a Grécia ou a Alemanha irem directamente ao BCE?
- Não. Sim. Quer dizer... em certo sentido... mas assim os banqueiros não ganhavam nada nesse negócio!
- ??!!..
- Sim os bancos precisam de ganhar alguma coisinha. O BCE, de Maio a Dezembro de 2010, emprestou cerca de 72 mil milhões de euros a países do euro através de um conjunto de bancos XPTO, a 1% e esse conjunto de bancos XPTO emprestou ao Estado português e a outros Estados a 6 ou 7%.
- Mas isso assim é um “negócio da China”! Só para irem a Bruxelas buscar o dinheiro!
- Neste exemplo ganharam uns 3 ou 4 mil milhões de euros. E não têm de se deslocar a Bruxelas, nem precisam de levantar o cu o rabo da cadeira. E qual Bruxelas qual carapuça. A sede do BCE é na Alemanha, em Frankfurt, onde é que havia de ser?
- Mas então isso é um verdadeiro roubo... com esse dinheiro escusava-se até de cortar nas pensões, no subsídio de desemprego ou de nos tirarem o 13º mês, que já dizem que vão tirar...
- Mas, oh seu Zé, você tem de perceber que os bancos têm de ganhar bem, senão como é que podiam pagar os dividendos aos accionistas e aqueles ordenados aos administradores que são gente muito especializada.
- Mas quem é que manda no BCE e permite um escândalo destes?
- Mandam os governos dos países da UE. A Alemanha em primeiro lugar que é o país mais rico, a França, Portugal e os outros países.
- Deixa ver se percebo. Então os Governos dão o nosso dinheiro ao BCE para eles emprestarem aos bancos a 1% para depois estes emprestarem a 5 e a 7% aos Governos donos do BCE?
- Não é bem assim. Como a Alemanha é rica e pode pagar bem as dívidas, os bancos levam só uns 2%, ou 1% e às vezes até um juro negativo. A nós ou à Grécia ou à Irlanda que estamos de corda na garganta e a quem é mais arriscado emprestar é que levam juros a 6%, a 7 ou mais.
- Nós somos os donos do dinheiro e nós não podemos pedir ao nosso banco…
- Nós, nós, qual nós? O país, Portugal ou a Alemanha, é composto por gentinha vulgar e por pessoas importantes que dão emprego e tal. Você quer comparar um borra-botas qualquer que ganha 400 ou 600 euros por mês ou um calaceiro que anda para aí desempregado com um grande accionista que recebe 5 ou 10 milhões de euros de dividendos por ano, ou com um administrador duma grande empresa ou de um banco que ganha, com os prémios a que tem direito, uns 50, 100, ou 200 mil euros por mês. Não se pode comparar.
- Mas e os nossos governos aceitam uma coisa dessas?
- Os nossos governos, os nossos governos... mas o que é que os governos podem fazer? Por um lado são na maior parte amigos dos banqueiros ou estão à espera dos seus favores, de um empregozito razoável quando lhes faltarem os votos. Em resumo, não podem fazer nada, senão quem é que os apoiava?
- Mas oh que porra de gaita então eles não estão lá eleitos por nós?
- Em certo sentido sim, é claro, mas depois... quem tem a massa é que manda. Não está a ver isto da maior crise mundial de há um século para cá? Essa coisa a que chamam sistema financeiro que transformou o mundo da finança num casino mundial como os casinos nunca tinham visto nem suspeitavam e que iam levando os EUA e a Europa à beira da ruína? É claro, essas pessoas importantes levaram o dinheiro para casa e deixaram a gentinha que tinha metido o dinheiro nos bancos e nos fundos a ver navios. Os governos então, nos EUA e cá na Europa, para evitar a ruína dos bancos tiveram que repor o dinheiro.
- E onde o foram buscar?
- Onde havia de ser!? Aos impostos, aos ordenados, às pensões. Donde é que havia de vir o dinheiro do Estado.
- Mas meteram os responsáveis na cadeia.
- Na cadeia? Que disparate. Então se eles é que fizeram a coisa, engenharias financeiras sofisticadíssimas, só eles é que sabem aplicar o remédio, só eles é que podem arrumar a casa. É claro que alguns mais comprometidos, como Raymond McDaniel, que era o presidente da Moody's, uma dessas agências de rathing que  classificaram a credibilidade de Portugal para pagar a dívida como lixo e atiraram com o país ao tapete, foram passados à reforma. O Sr. McDaniel é uma pessoa importante, levou uma indemnização de 10 milhões de dólares a que tinha direito.
- Oh Sô Antunes, então como é? Comemos e calamos?
- Isso já não é comigo, eu só estou a explicar.

2011-04-15

A inauguração da exposição do Aljube



Jaime Gama, presidente da AR, Mário Soares, em representação da FMS, António Costa, presidente da CML, Fernando Rosas do Instituto de História Contemporânea da UNL e Raimundo Narciso do Movimento Cívico Não Apaguem a Memória (NAM) usaram da palavra, perante cerca de duzentos pessoas entre elas deputados e outras altas indidualidades do Estado e da sociedade civil, como Vasco Lourenço em representação da A25A ou Corregedor da Fonseca pela URAP. Seguiu-se uma visita guiada à exposição.
________________

Intervenção do presidente da direcção do Movimento Cívico Não Apaguem a Memória (NAM):

Em nome do Movimento Cívico Não Apaguem a Memória quero agradecer a vossa presença e sublinhar quão ela revela a importância simbólica atribuída a esta exposição que exalta os valores da liberdade e da democracia e presta homenagem àqueles portugueses que, sem esperarem benefícios empenharam liberdade e por vezes a vida, na luta por elas.

A Exposição A Voz das Vítimas teve o apoio decisivo da Comissão Nacional das Comemorações do Centenário da República e da Câmara Municipal de Lisboa, contou com o apoio de outras entidades públicas e privadas e com a colaboração da RTP e do Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Não queria, no entanto, deixar de sublinhar que o êxito desta singular exposição só foi possível com a colaboração e o empenho pessoal do Sr. Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Dr. António Costa e da Srª vereadora da Cultura, Drª Catarina Vaz Pinto.
A participação do Movimento Cívico Não Apaguem a Memória nesta exposição decorre do objecto para que foi criado e que é “a salvaguarda, investigação e divulgação da memória da resistência à ditadura e da liberdade conquistada em 25 de Abril de 1974”.
A preservação da memória colectiva é fundamental para garantir a nossa identidade como povo e nação. É nosso dever dar testemunho às novas gerações do que fizemos de melhor ou dos erros cometidos, assim como da determinação e por vezes do heroísmo, de que fomos capazes para os vencer.
Ao contrário de muitos outros países europeus que valorizaram o seu património de luta pela liberdade, a democracia e a paz o Estado português e a sociedade civil, salvo raras excepções, como o ilustra o caso presente, não têm feito o necessário para preservar a memória da luta dos portugueses no período negro que representou a ditadura que durante quase meio século afastou Portugal, da senda do progresso, dos caminhos da liberdade e conduziu guerras criminosas contra os povos das então colónias que aspiravam à independência.
O Movimento Não Apaguem a Memória, teve origem em 5 de Outubro de 2005, num protesto público pela não preservação da antiga sede da PIDE/DGS, em Lisboa.
Um momento importante do voluntariado de todos os que integram o nosso Movimento, foi a aprovação em 2008 pela Assembleia da República, com a unanimidade dos deputados, de uma Resolução Parlamentar na sequência de uma petição com mais de 6 mil assinaturas. Nessa Resolução Parlamentar afirma-se que “A Assembleia da República resolve recomendar ao Governo que crie condições efectivas, incluindo financeiras, que tornem possível a concretização de projectos designadamente a criação de um museu da liberdade e da resistência, cuja sede deve situar-se no centro histórico de Lisboa  precisamente aqui, no Aljube.

Este objectivo concreto, foi entretanto adquirido. Será esse o seu destino após esta exposição. O Movimento Cívico Não Apaguem a Memória empenhou-se nesse objectivo e assinou com a CML, precisamente em 25 de Abril de 2009, um protocolo nesse sentido. Para o seu êxito contribuiu além do Dr. António Costa o apoio do então ministro da Justiça, Dr. Alberto Costa que se disponibilizou para transferir os serviços do seu ministério que ocupavam este edifício e para o entregar à CML para esse fim.

Outro momento importante da curta vida do nosso Movimento é este, ao inaugurarmos uma exposição que presta homenagem aos muitos milhares de portugueses que,   ao longo da ditadura do Estado Novo,  tiveram de pagar um alto preço pela determinação e coragem   de lutar pela liberdade e por um Portugal melhor para todos os Portugueses. Essa luta pertinaz,   durante tantos anos, ajudou a abrir caminho para o levantamento militar dos gloriosos capitães de Abril, em 1974, aqui representados pela Associação 25 de Abril e o seu presidente coronel Vasco Lourenço.  A Liberdade e a democracia são conquistas consolidadas, mas uma sociedade mais igualitária e mais justa continua a ser um objectivo bem na ordem do dia.
A todos, convidados ilustres e companheiros do Movimento Cívico Não Apaguem a Memória 
Obrigado pela vossa atenção.

A Voz das Vítimas

É o nome da exposição que se inaugura hoje, dia 14 de ABril de 2011, às 18 h, na antiga prisão política do Aljube (ao lado da Sé de Lisboa). Entrada livre. Mais informações aqui  aqui, ou aqui.
A seguir uma contribuição do Movimento Não Apaguem a Memória para o catálogo da exposição:


___________________
A exposição A Voz das Vítimas é um caso exemplar de evocação da memória da luta pela liberdade levada a cabo por muitos portugueses, de todas as condições e de diferentes credos políticos e religiosos, contra a ditadura do Estado Novo que vigorou de 1926 a 1974.
A ditadura, longa de várias gerações, tentou apagar da vida dos Portugueses e em parte conseguiu, a herança e a Memória das conquistas progressistas da Revolução Republicana iniciada em 5 de Outubro de 1910, conquistas vanguardistas na Europa de então. Tentou e em parte conseguiu apagar da memória colectiva a luta multifacetada, pelas formas assumidas e pelas ideologias presentes, que ao longo de toda a sua existência contra ela se ergueu.
O Movimento Não Apaguem a Memória (NAM) que participa com o Instituto de História Contemporânea da FCSH da Universidade Nova de Lisboa e com a Fundação Mário Soares nesta exposição, teve origem em 2005, precisamente no dia 5 de Outubro, o dia da República, momento em que um grupo de cidadãos se manifestou junto da antiga sede da polícia política, a PIDE/DGS, na Rua António Maria Cardoso, em Lisboa, em protesto contra a transformação daquela sede num condomínio privado de luxo riscando-se assim, da cidade e da Memória, o mais emblemático testemunho do terror que reinou durante meio século em Portugal, sem a preservação de qualquer testemunho da sua história recente.
O NAM conta na sua curta história de cinco anos, algumas conquistas significativas mercê do empenho desinteressado de muitos activistas.
A primeira iniciativa de grande vulto do NAM foi uma petição ao Parlamento, com mais de 6000 assinaturas, entregue em 2006.07.26 pelo ex-Presidente da República, Mário Soares, para vincular “os poderes públicos, à preservação da memória dos combates pela democracia e pela liberdade travados durante a resistência à ditadura do chamado Estado Novo”.
Conduzido pelo Deputado Marques Júnior, um capitão de Abril, o projecto de Resolução Parlamentar teve o apoio de todos os deputados e deu origem à Resolução da Assembleia da República nº 24/2008, aprovada em 6 de Junho desse ano e que leva o título “Divulgação às futuras gerações dos combates pela liberdade na resistência à ditadura e pela democracia”

Um dos principais objectivos do NAM foi a transformação da antiga cadeia do Aljube, em Lisboa, num museu da luta pela liberdade. É um objectivo que está em vias de se realizar e terá início após terminada a exposição “A Voz das Vítimas”. Ele teve o apoio do ministro da Justiça de então, Alberto Costa, que se prontificou a transferir os serviços do seu ministério ali instalados e teve o apoio do presidente da Câmara Municipal de Lisboa (CML), António Costa que “assumiu a posse do edifício para aí instalar o futuro museu como consta no protocolo assinado em 25 de Abril de 2009 pelo NAM e a CML.

O NAM conseguiu que na fachada do condomínio privado edificado no local da ex-sede da PIDE ficasse a placa alusiva ao assassinato pela polícia política de quatro cidadãos que participavam, no local, numa manifestação pacífica no dia da libertação do país, em 25 de Abril de 1974 e que a CML identificasse o local como o da ex-sede daquela polícia, o que foi feito com uma sinalização, em bronze, junto do edifício, numa manifestação pública, em 25 de Abril de 2010, com a participação do presidente da CML.

Outro objectivo central do NAM é criar nas imediações do local da antiga sede da antiga polícia política um memorial às suas vítimas. Decorrem neste momento contactos com a CML e com artistas que apoiam o NAM, com esse objectivo.

Entre as iniciativas levadas a acabo pelo NAM merecem particular destaque
• a realização do colóquio internacional sobre o Campo de Concentração do Tarrafal “Tarrafal uma prisão dois continentes” em Outubro de 2008. O Colóquio, realizado num auditório do Parlamento, contou com o apoio e a participação do presidente da Assembleia da República, Jaime Gama, e do ministro da Justiça, Alberto Costa e teve a participação de ex-presos políticos portugueses, e das antigas colónias de Cabo Verde, da Guiné-Bissau e de Angola.
• E a participação no Simpósio Internacional sobre o campo de concentração do Tarrafal, realizado no próprio local do campo, sob o alto patrocínio do Presidente da República de Cabo Verde, de 28 de Abril a 1 de Maio de 2009.

A exposição A Voz das Vítimas constituirá um momento de grande relevo no esforço de preservação da Memória da luta pela Liberdade e representará, seguramente, um forte estímulo para a expansão dos objectivos do nosso Movimento.

Raimundo Narciso
(Presidente da Direcção do NAM)

2011-01-30

Those were the days, by Mary Hopkin

.





Mary Hopkyn no Youtube

Letra no original e (mais abaixo) em Português

Those Were The Days

Once upon a time there was a tavern,
Where we used to raise a glass or two.
Remember how we laughed away the ours,
think of all the great things we would do.

Those were the days my friend,
We thought they'd never end,
We'd sing and dance for-ever and a day,
We'd live the life we choose,
We'd fight and never lose,
For we were young and sure to have our way.
Lalala lah lala, lalala lah lala

Just tonight I stood before the tavern,
Nothing seemed the way it used to be.
In the glass I saw a strange reflection,
Was that lonely soldier really me.

Those were the days my friend,
We thought they'd never end,
We'd sing and dance for-ever and a day,
We'd live the life we choose,
We'd fight and never lose,
For we were young and sure to have our way.
Lalala lah lala, lalala lah lala

Through the door there came familiar laughter.
I saw your face and heard you call my name.
Oh, my friend, we're older but no wiser,
For in our hearts the dreams are still the same.

Those were the days my friend,
We thought they'd never end,
We'd sing and dance for-ever and a day,
We'd live the life we choose,
We'd fight and never lose,
For we were young and sure to have our way.
Lalala lah lala, lalala lah lala

Esses é que eram dias

Era uma vez uma taberna,
Onde nós íamos tomar um copo ou dois.
Lembrar de como nos ríamos com o passar das horas,
pensando em todas as coisas que fizemos.

Esses foram os dias meu amigo,
Que pensávamos que nunca iam acabar,
Nós cantávamos e dançávamos durante o dia inteiro,
Nós vivíamos a vida que escolhemos
Nós lutávamos e nunca perdíamos,
E nós éramos jovens e estávamos certos de que esse era o nosso caminho.
Lalala lah lala, lalala lah lala

Nesta noite, eu estou em frente à taberna,
Está bem diferente do que era no nosso tempo.
No vidro vejo um reflexo estranho,
Era um soldado solitário como eu.

Esses foram os dias meu amigo,
Que pensávamos que nunca iam acabar,
Nós cantávamos e dançávamos durante o dia inteiro,
Nós vivíamos a vida que escolhemos
Nós lutávamos e nunca perdíamos,
E nós éramos jovens e estávamos certos de que esse era o nosso caminho.
Lalala lah lala, lalala lah lala

Através da porta ouço uma risada familiar.
Vejo o seu rosto e ouço-o chamar-me.
Ah, meu amigo, estamos velhos mas não estamos cansados,
Nos nossos corações os nossos sonhos ainda são os mesmos

Esses foram os dias meu amigo,
Que pensávamos que nunca iam acabar,
Nós cantávamos e dançávamos durante o dia inteiro,
Nós vivíamos a vida que escolhemos
Nós lutávamos e nunca perdíamos,
E nós éramos jovens e estávamos certos de que esse era o nosso caminho.
Lalala lah lala, lalala lah lala

2010-12-10

PISA - O seu a seu dono

Maria de Lurdes Rodrigues a quem os portugueses devem estes resultados. Que melhor melhor prenda de Natal?

PISA 2009 – Competências dos Alunos Portugueses
Lisboa, 7 de Dezembro de 2010
PISA – Programme for International Student Assessment Estudo internacional com ciclos de 3 anos.
Avalia o desempenho dos alunos de 15 anos
Avalia as competências dos alunos em 3 domínios
• Literacia de leitura
• Literacia matemática
• Literacia científica
2000 Leitura 2003 Matemática 2006 Ciências 2009 Leitura


Em 2009, os testes PISA foram aplicados a 6298 alunos portugueses
Participaram 212 escolas
Em cada escola foram seleccionados aleatoriamente 40 alunos
O processo de constituição da amostra foi integralmente conduzido e controlado pela OCDE






A progressão verificada resultou
• da redução da percentagem de alunos com desempenhos negativos (níveis 1 e abaixo de 1)
• do aumento da percentagem de alunos com desempenhos médios a excelentes (níveis 3, 4, 5 e 6)
Portugal é o 6.º país cujo sistema educativo melhor compensa as assimetrias socioeconómicas
Portugal é um dos países com maior percentagem de alunos de famílias economicamente desfavorecidas que atingem excelentes níveis de desempenho, em leitura

Literacia de Leitura
Em 2009, Portugal obteve em literacia de leitura 489 pontos [ 470 em 2000]
Com este resultado, Portugal situa-se, pela primeira vez, na média da OCDE
Desde o primeiro ciclo, em 2000, os resultados dos alunos portugueses aumentaram 19 pontos




Literacia de Leitura
Percentagens por níveis de desempenho – Portugal 2000 e 2009
Entre 2000 e 2009, a percentagem de alunos com
• níveis médios a excelentes aumentou 7,5 pontos
• níveis negativos diminuiu 9 pontos
• aumentou a percentagem de alunos com desempenhos positivos
• diminuiu a percentagem de alunos com desempenhos negativos
Entre 2000 e 2009, Portugal aproximou-se dos países com maiores percentagens de alunos com níveis de desempenho acima do nível 3
Literacia Matemática
Em 2009, Portugal obteve em literacia matemática 487 pontos
Desde o ciclo de 2003, os resultados dos alunos portugueses aumentaram 21 pontos


Literacia Científica
Em 2009, Portugal obteve, em literacia científica, 493 pontos Desde o ciclo de 2003, os resultados dos alunos portugueses aumentaram 19 pontos

2010-10-26

As pensões douradas da oligarquia

Artigo de opinião de José Vitor Malheiros In Público de 2010-10-19

" O Governo tem um problema. Não é o único problema nem o mais importante, mas este é um daqueles que o Governo admite: o Governo não sabe como aplicar o corte de 10 por cento nas pensões acima de 5000 euros.

Se fosse nos salários, era fácil - como vai ser fácil, aliás. Se fosse nas pensões mais baixas também era fácil. Se fosse mais um aumento de IRS era fácil, ou do IVA, ou do IMI, ou do imposto de selo. Mas cortar nos pensionistas de luxo, naqueles que se reformaram aos cinquenta anos para acumular duas ou três pensões (além de continuarem a trabalhar e a receber salários, porque recuperaram milagrosamente do cansaço que os obrigou à reforma), aí, é “complicado”.

Não é que a administração fiscal não saiba quem ganha o quê. Não é que a administração fiscal não saiba quem paga o quê a quem e quanto e quando. Mas é complicado, pronto.

Para começar, nunca se começou. E verdade que esta situação imoral é denunciada há anos, e que todos sabemos que o dinheiro da Segurança Social anda a servir para pagar reformas de luxo a quem não precisa delas, mas nunca se tentou fazer o levantamento ou conceber o sistema que permitiria fazer o levantamento dessas situações. A razão? É complicado, já dissemos.
Uma das razões por que isso é complicado é que muitos destes pensionistas são pessoas educadíssimas, de excelentes famílias. Alguns são ex-governantes que usufruem das suas pensões por terem exercido cargos políticos. Outros são políticos de outras esferas. Outros são altos funcionários da administração pública. Outros são altos quadros de empresas públicas ou privadas. Outros são todas estas coisas juntas. Todos eles se reformaram porque tinham direito à reforma. Melhor, às reformas, porque o que aqui nos preocupa são os acumuladores de pensões e subvenções. E todos eles a solicitaram porque imaginaram que estavam demasiado doentes ou fragilizados para trabalhar e a sua única hipótese de sobreviver era a solidariedade nacional. Depois, quando descobriram que afinal podiam trabalhar e começaram de facto a dar umas aulas aqui, a fazer uma consultoria ali, a receber uma avença acolá, mais um part-time além, ter-se-ão esquecido de que estavam a receber as pensõezinhas.
A imoralidade é clara. Não é admissível que, no contexto actual de cortes salariais, apenas seja objecto de um corte de dez por cento a parcela do cúmulo de pensões que exceder 5000 euros. Por que não se faz então a mesma coisa com os salários? Trata-se apenas de mais uma borla oferecida à oligarquia. Não é admissível que se garanta tão repetidamente que estes cortes apenas vigorarão em 2011, quando a mesma garantia não existe para os salários. Não é admissível que sejam proibidas as acumulações de pensões com salários do Estado mas se permita a acumulação de salários privados com pensões públicas. Finalmente, não é admissível que essa proibição não abranja aqueles que já beneficiam neste momento dessas acumulações e que apenas atinja os futuros pensionistas.
Já se sabe que tudo isto representa apenas uns poucos milhões. Mas usar a depauperada Segurança Social para que uns milhares de privilegiados possam manter hábitos de luxo é imoral.
Há outra norma que seria bom adoptar. Não tenho nada contra o facto de alguém conquistar o direito a uma pensão por inteiro por ter sido deputado ou ministro durante uma dúzia de anos. A regra é defensável. Mas o “direito a uma pensão por inteiro” não significa que essa pensão deva começar a ser paga imediatamente, quando o beneficiário ainda está em idade activa e produtiva e tem, efectivamente, emprego. O que seria lógico e decente seria que esse direito fosse accionado apenas - salvo casos de verdadeira necessidade - no momento da idade da reforma. (jvmalheiros@gmail.com)

2010-06-29

Vìtimas do Franquismo

VÍDEO CULTURA CONTRA LA IMPUNIDAD
14/06/2010 - (Link , El País )

Artistas y familiares de víctimas del franquismo han presentado esta mañana un vídeo, en el que 15 escritores, actores y músicos ponen rostros y voz a otros tantos asesinados durante la Guerra Civil y la dictadura franquista. Ninguno de los artistas que participan en el vídeo ha cobrado por ello. "Nunca hemos sentido tan fuerte un personaje como ahora", ha explicado emocionado el actor Juan Diego. "Ha sido necesario un vídeo así porque las historias de estas personas no están en los libros de texto, no se escuchan, no se sabe lo que han sufrido", ha denunciado Emilio Silva, presidente de la Asociación para la Recuperación de la Memoria Histórica, quien ha confiado en que el documental sirva, no solo para "avergonzar" a "los jueces que han perseguido a un juez por intentar investigar unos crímenes reales", sino para que "hagan algo".

Estos son los 15 relatos separados en el vídeo por el estruendo de la descarga de un pelotón de fusilamiento.

Pedro Almodóvar interpreta a Virgilio Leret Ruiz, aviador, Jefe de las Fuerzas Aéreas de la Zona Oriental de Marruecos. Fue el primer militar asesinado por sus compañeros sublevados al amanecer del 18 de julio de 1936 en la Base Aérea Militar de Melilla. No tuvo ni abogado, ni juicio, ni sentencia. Sus hijas todavía lo están buscando. El cineasta no ha podido asistir a la presentación del vídeo porque estaba haciendo localizaciones para su próxima película, pero envió una nota en la que se leía: "No es una cuestión política, sino humana. España no debe olvidar la deuda que tiene con estas miles de familias".

Maribel Verdú pone voz a Primitiva Rodríguez, enlace de la guerrilla antifranquista, detenida el 6 de septiembre de 1947. Su sobrino iba con ella y vio cómo dos hombres la violaban detrás de unos arbustos mientras a él lo alejaban del lugar en una camioneta.

Javier Bardem es Francisco Escribano, un cabrero de 18 años al que fusilaron el 1 de julio de 1941 por haber robado "para los del monte" dos sacos de garbanzos, una manta, unas tijeras, seis calcetines, seis pañuelos y diez pesetas. En la misma tapia, y por el mismo delito, murieron su padre, dos de sus tíos y uno de sus primos.

Almudena Grandes se mete en la piel de Granada Garzón de la Hera. El cura de su pueblo la denunció por no estar casada por la Iglesia. Primero la excomulgaron, después, la raptaron y le raparon la cabeza. Fue fusilada con otras 16 mujeres. Después de enterrar sus cuerpos en un lugar desconocido, denunciaron a su marido. También fue asesinado, como el mayor de sus siete hijos. "Lo que han visto", ha dicho la escritora tras la presentación del vídeo, "no tiene que ver con el pasado de este país, sino con el presente, y sobre todo con su futuro. La democracia no puede seguir ignorando esta tragedia y caminando sobre el vacío. Esto no es un ejercicio nostálgico, sino una llamada a la reflexión sobre el tipo de país que queremos ser", ha añadido.

María Galiana, que antes de ser actriz fue maestra, recuerda la historia de Balbina Gayo Gutiérrez, maestra republicana, detenida el 9 de septiembre de 1936 y asesinada al día siguiente. A su marido, Ceferino Farfante Rodríguez, también maestro, lo mataron un día después, cuando fue a preguntar por ella. Dejaron tres hijas muy pequeñas que todavía los están buscando. Entre ellas, Hilda Farfante, que ha asistido, muy emocionada, a la presentación del vídeo. "Me ha parecido un grito contra tan largo y vergonzoso silencio. Nadie había hecho nada semejante por nuestros muertos. Gracias en nombre de 113.000 familias", ha dicho.

Juan Diego Botto es Santos Valentín Francisco Díaz, herrador, tesorero del Círculo Obrero. Fue detenido en agosto de 1936 y encerrado en un campo de concentración. En octubre de ese mismo año le fusilaron junto a otras seis personas en Villadangos del Páramo (León). Dejó siete hijos, el mayor de 17 años, el menor de 11 meses. Su cuerpo no ha sido recuperado. Botto ha agradecido esta mañana "el coraje, la generosidad y la inmensa paciencia que los familiares de las víctimas han demostrado todos estos años, desde la Transición", y ha deseado que el país "se ponga a su altura".

Carmen Machi pone voz a Isabel Picorel. El 26 de agosto de 1936 escapó de su casa junto a sus tres hijos, después de que la avisaran de que los falangistas iban a detenerla por sus simpatías republicanas y como castigo a su marido, quien, tras el golpe de Estado del 18 de julio, se había unido a las fuerzas democráticas republicanas de Asturias. Al volver a su casa para recoger algunas pertenencias fue detenida. La asesinaron junto a otros tres hombres en una cuneta en el municipio de Fresnedo.

Juan José Millás es Antonio Parra Ortega, un jornalero de 34 años, asesinado el 4 de septiembre de 1936. Tenía dos hijos y dos meses después de que lo asesinaran nació su hija Antonia que ha viajado desde Marchena a Madrid para ver el vídeo. "Me ha emocionado mucho conocerla", ha dicho Millás, al que le había impresionado mucho sobre todo, una imagen de la historia de Antonio Parra. "Su mujer enterró los libros que había en casa en el patio porque ella sabía que lo habían matado por leer".

Aitana Sánchez-Gijón recuerda a Julia Conesa, una de las 13 rosas. En mayo de 1939 un conocido de su novio la denunció a la policía. La fusilaron el 5 de agosto. Tenía 19 años. La actriz, muy emocionada, ha reconocido, tras ver el vídeo, que le estaba costando "mantener la compostura". "La democracia no es completa si no hay reparación. Ya basta", ha dicho.

Paco León se pone en la piel de su bisabuelo, Joaquín León Trejo, maestro de escuela en un pueblo de Sevilla. Un alumno le denunció por republicano. Le fusilaron a él y a sus dos hermanos.

Pilar Bardem habla en nombre de María Álvarez, que durante años ayudó a los guerrilleros antifranquistas. Fue asesinada con su hermano Marcelino en julio de 1951.

José Manuel Seda recuerda a Gerardo González Iglesias, jornalero, militante de UGT y padre de cuatro hijos. Al comienzo de la guerra se alistó como miliciano. Fue fusilado el 5 de marzo de 1938. Fue a parar a una fosa común. Sus hermanos Ángel, de 32 años y Ramón, de 26, también fueron asesinados. En la presentación del vídeo ha destacado la valentía de los que, como Gerardo González, habían dado su vida por defender sus convicciones. "Me pregunto si yo sería capaz de tirarme al monte para defender lo que creo".

Hugo Silva es José Villalibre Toral, albañil y labrador. El 22 de agosto de 1936 fueron a buscarlo un grupo de falangistas, que lo asesinaron horas después. Tampoco tuvo ni abogado, ni juicio, ni sentencia.

Miguel Ríos recuerda a Severiano Rivas, alcalde republicano. Fue detenido en 1936 mientras estaba tomando un café. A los dos meses, le pegaron un tiro y abandonaron su cuerpo en los alrededores del cementerio.

Juan Diego es Feliciano Marcos Brasa, de Destriana (León), miembro de las Juventudes Socialistas de su localidad natal e hijo de Higinio Marcos Pérez, presidente de la Sociedad de Trabajadores de la Tierra. A finales de julio de 1936, Feliciano fue secuestrado en su pueblo y torturado, asesinado y enterrado en un paraje alejado varios kilómetros. En octubre de ese mismo año su padre fue también asesinado junto a dos vecinos.

2010-03-17

A Lápide da ex-sede da PIDE

.


A Lápide em honra e memória dos quadro jovens mortos pela PIDE/DGS, no dia 25 de Abril de 1974, foi recolocado pelo promotor imobiliário do condomínio privado em 16 de Março de 2010, em posição mais visível do que aquela em que inicialmente a colocara (a um metro do chão) depois dos protestos do Movimento Não Apaguem a Memória - NAM e de muitos cidadãos por email e carta dirigidos ao GEP.

2010-02-28

Victor Louro sobre Eng. Silvicultor Cecílio Gomes da Silva

.
Victor Louro é engenheiro silvicultor reformado, foi Secretário de Estado da Reforma Agrária no VI Governo Provisório e comenta o artigo de Cecílio Gomes da Silva, publicado em 1985, [ver post abaixo] que descreve um "sonho" onde "viu" a catástrofe que se poderia abater sobre o Funchal se não se tomassem medidas como as que propunha, e que... se abateu sobre a cidade em 2010!!
______________

"O meu colega não é bruxo, mas é um grande Silvicultor. É um homem entusiasta e sabedor, que elaborou a 1ª carta de risco de incêndios florestais, nos anos 80: apesar das técnicas de então, esteve em uso 20 anos até 2003, quando foi substituida por uma outra resultante das imagens de satélite, com alta tecnologia !
Foi este Homem que eu quis que o Ministério lhe atribuisse a medalha de Mérito Agrícola aquando da publicação da referida carta de 2003, sob a minha responsabilidade enquanto Director de Serviços. Mas nem sequer aceitaram a minha insistência para o convidar para a apresentação pública da mesma !
Escrevi na Apresentação desse livro:

"A Carta de 1981 traduziu esse fenómeno com assinalável consistência. Ela foi possível graças ao conhecimento prático acumulado na DGF (que, na época detinha não só a responsabilidade da vigilância, como a do combate, ao menos nas matas que estavam sob sua gestao, ou seja, as Matas Nacionais e os Baldios). Mas, essencialmente, graças ao conhecimento científico que ali residia. E como as instituições não fazem o trabalho por elas próprias, é de elementar justiça destacar o saber e a técnica do Engenheiro Silvicultor Cecílio Gomes da Silva, o grande autor da referida Carta. Com papel vegetal e lápis, sobrepondo sucessivas cartas (climáticas, exposições, demografia e distribuição da vegetação), esse distinto silvicultor produziu um instrumento cartográfico assente nos conceitos disponíveis na época, que se revelou de grande utilidade. Deve-lhe o País este reconhecimento público".

Quando o saber respeitar a Natureza é substituído pelo patobravismo, e a ganância ganha foros de "valor" humano e "guia" do comportamento, é inevitável que, mais tarde ou mais cedo, ela - a Natureza - nos lembre a burrice dessas irresponsabilidades. Mesmo que nos chamem idealistas e utópicos, é preciso ter a coragem de denunciar constantemente essas burrices -. porque a Terra é só uma.

Eu tive um sonho

.
[Ampliar com um clique]


A catástrofe da Madeira de Fevereiro de 2010 prevista em 1985.

Artigo publicado no “Diário de Notícias” do Funchal no dia 13 de Janeiro de 1985 pelo Engenheiro Silvicultor. Cecílio Gomes da Silva (Madeirense falecido em 2005) [Aqui] e [aqui] (Relacionado com o autor: Link)
____________

«Traumatizado pelo estado de desertificação das serras do interior da Ilha da Madeira, muito especialmente da região a Norte do Funchal e que constitui as bacias hidrográficas das três ribeiras que confluem para o Funchal, dando-lhe aquela fisiografia de perfeito anfiteatro, aliado a recordações da infância passada junto à margem de uma das mais torrenciais dessas ribeiras – a de Santa Luzia – o mundo dos meus sonhos é frequentemente tomado por pesadelos sempre ligados às enxurradas invernais e infernais dessa ribeira. Tive um sonho.

Adormecendo ao som do vento e da chuva fustigando o arvoredo do exemplar Bairro dos Olivais Sul onde resido, subia a escadaria do Pico das Pedras, sobranceiro ao Funchal. Nuvens negras apareceram a Sudoeste da cidade, fazendo desaparecer o largo e profundo horizonte, ligando o mar ao céu. Acompanhavam-me dois dos meus irmãos – memórias do tempo da Juventude – em que nós, depois do almoço, íamos a pé, subindo a Ribeira de Santa Luzia e trepando até à Alegria por alturas da Fundoa, até ao Pico das Pedras, Esteias e Pico Escalvado. Mas no sonho, a meio da escadaria de lascas de pedra, o vento fez-nos parar, obrigando-nos a agarrarmo-nos a uns pinheiros que ladeavam a pequena levada que corria ao lado da escadaria. Lembro-me que corria água em supetões, devido ao grande declive, como nesses velhos tempos. De repente, tudo escureceu. Cordas de água desabaram sobre toda a paisagem que desaparecia rapidamente à nossa volta. O tempo passava e um ruído ensurdecedor, semelhante a uma trovoada, enchia todo o espaço. Quanto durou, é difícil calcular em sonhos. Repentinamente, como começou, tudo parou; as nuvens dissiparam-se, o vento amainou e a luz voltou. Só o ruído continuava cada vez mais cavo e assustador. Olhei para o Sul e qualquer coisa de terrível, dantesco e caótico se me deparou. A Ribeira de Santa Luzia, a Ribeira de S. João e a Ribeira de João Gomes eram três grandes rios, monstruosamente caudalosos e arrasadores. De onde me encontrava via-os transformarem-se numa só torrente de lama, pedras e detritos de toda a ordem. A Ribeira de Santa Luzia, bloqueada por alturas da Ponte Nova – um elevado monturo de pedras, plantas, arames e toda a ordem de entulho fez de tampão ao reduzido canal formado pelas muralhas da Rua 31 de Janeiro e da Rua 5 de Outubro – galgou para um e outro lado em ondas alterosas vermelho acastanhadas, arrasando todos os quarteirões entre a Rua dos Ferreiros na margem direita e a Rua das Hortas na margem esquerda. As águas efervescentes, engrossando cada vez mais em montanhas de vagas espessas, tudo cobriram até à Sé – único edifício de pé. Toda a velha baixa tinha desaparecido debaixo de um fervedouro de água e lama. A Ribeira de João Gomes quase não saiu do seu leito até alturas do Campo da Barca; aí, porém, chocando com as águas vindas da Ribeira de Santa Luzia, soltou pela margem esquerda formando um vasto leito que ia desaguar no Campo Almirante Reis junto ao Forte de S. Tiago. A Ribeira de S. João, interrompida por alturas da Cabouqueira fez da Rua da Carreira o seu novo leito que, transbordando, tudo arrasou até à Avenida Arriaga. Um tumultuoso lençol espumante de lama ia dos pés do Infante D. Henrique à muralha do Forte de S. Tiago. O mar em fúria disputava a terra com as ribeiras. Recordo-me de ver três ilhas no meio daquele turbilhão imenso: o Palácio de S. Lourenço, A torre da Sé e a fortaleza de S. Tiago. Tudo o mais tinha desaparecido – só água lamacenta em turbilhões devastadores.

Acordei encharcado. Não era água, mas suor. Não consegui voltar a adormecer. Acordado o resto da noite por tremenda insónia, resolvi arborizar toda a serra que forma as bacias dessas ribeiras. Continuei a sonhar, desta vez acordado. Quase materializei a imaginação; via-me por aquelas chapas nuas e erosionadas, com batalhões de homens, mulheres e máquinas, semeando urze e louro, plantando castanheiros, nogueiras, pau-branco e vinháticos; corrigindo as barrocas com pequenas barragens de correcção torrencial, canalizando talvegues, desobstruindo canais. E vi a serra verdejante; a água cristalina deslizar lentamente pelos relvados, saltitando pelos córregos enchendo levadas. Voltei a ouvir os cantares dolentes dos regantes pelos socalcos ubérrimos das vertentes. Foram dois sonhos. Nenhum deles era real; felizmente para o primeiro; infelizmente para o segundo.

Oxalá que nunca se diga que sou profeta. Mas as condições para a concretização do pesadelo existem em grau mais do que suficiente.

Os grandes aluviões são cíclicos na Madeira. Basta lembrar o da Ribeira da Madalena e mais recentemente o da Ribeira de Machico. Aqui, porém, já não é uma ribeira, mas três, qualquer delas com bacias hidrográficas mais amplas e totalmente desarborizadas. Os canais de dejecção praticamente não existem nestas ribeiras e os cones de dejecção estão a níveis mais elevados do que a baixa da cidade. As margens estão obstruídas por vegetação e nalguns troços estão cobertas por arames e trepadeiras. Agradável à vista mas preocupante se as águas as atingirem. Estão criadas todas as condições, a montante e a jusante para uma tragédia de dimensões imprevisíveis (só em sonhos).

Não sei como me classificaria Freud se ouvisse este sonho. Apenas posso afirmar sem necessidade de demonstrações matemáticas que 1 mais 1 são 2, com ou sem computador. O que me deprime, porém, é pensar que o segundo sonho é menos provável de acontecer do que o primeiro.
Dei o alarme – pensem nele.
Cecílio Gomes da Silva