A seguir uma contribuição do Movimento Não Apaguem a Memória para o catálogo da exposição:
___________________
A exposição A Voz das Vítimas é um caso exemplar de evocação da memória da luta pela liberdade levada a cabo por muitos portugueses, de todas as condições e de diferentes credos políticos e religiosos, contra a ditadura do Estado Novo que vigorou de 1926 a 1974.
A ditadura, longa de várias gerações, tentou apagar da vida dos Portugueses e em parte conseguiu, a herança e a Memória das conquistas progressistas da Revolução Republicana iniciada em 5 de Outubro de 1910, conquistas vanguardistas na Europa de então. Tentou e em parte conseguiu apagar da memória colectiva a luta multifacetada, pelas formas assumidas e pelas ideologias presentes, que ao longo de toda a sua existência contra ela se ergueu.
O Movimento Não Apaguem a Memória (NAM) que participa com o Instituto de História Contemporânea da FCSH da Universidade Nova de Lisboa e com a Fundação Mário Soares nesta exposição, teve origem em 2005, precisamente no dia 5 de Outubro, o dia da República, momento em que um grupo de cidadãos se manifestou junto da antiga sede da polícia política, a PIDE/DGS, na Rua António Maria Cardoso, em Lisboa, em protesto contra a transformação daquela sede num condomínio privado de luxo riscando-se assim, da cidade e da Memória, o mais emblemático testemunho do terror que reinou durante meio século em Portugal, sem a preservação de qualquer testemunho da sua história recente.
O NAM conta na sua curta história de cinco anos, algumas conquistas significativas mercê do empenho desinteressado de muitos activistas.
A primeira iniciativa de grande vulto do NAM foi uma petição ao Parlamento, com mais de 6000 assinaturas, entregue em 2006.07.26 pelo ex-Presidente da República, Mário Soares, para vincular “os poderes públicos, à preservação da memória dos combates pela democracia e pela liberdade travados durante a resistência à ditadura do chamado Estado Novo”.
Conduzido pelo Deputado Marques Júnior, um capitão de Abril, o projecto de Resolução Parlamentar teve o apoio de todos os deputados e deu origem à Resolução da Assembleia da República nº 24/2008, aprovada em 6 de Junho desse ano e que leva o título “Divulgação às futuras gerações dos combates pela liberdade na resistência à ditadura e pela democracia”
Um dos principais objectivos do NAM foi a transformação da antiga cadeia do Aljube, em Lisboa, num museu da luta pela liberdade. É um objectivo que está em vias de se realizar e terá início após terminada a exposição “A Voz das Vítimas”. Ele teve o apoio do ministro da Justiça de então, Alberto Costa, que se prontificou a transferir os serviços do seu ministério ali instalados e teve o apoio do presidente da Câmara Municipal de Lisboa (CML), António Costa que “assumiu a posse do edifício para aí instalar o futuro museu como consta no protocolo assinado em 25 de Abril de 2009 pelo NAM e a CML.
O NAM conseguiu que na fachada do condomínio privado edificado no local da ex-sede da PIDE ficasse a placa alusiva ao assassinato pela polícia política de quatro cidadãos que participavam, no local, numa manifestação pacífica no dia da libertação do país, em 25 de Abril de 1974 e que a CML identificasse o local como o da ex-sede daquela polícia, o que foi feito com uma sinalização, em bronze, junto do edifício, numa manifestação pública, em 25 de Abril de 2010, com a participação do presidente da CML.
Outro objectivo central do NAM é criar nas imediações do local da antiga sede da antiga polícia política um memorial às suas vítimas. Decorrem neste momento contactos com a CML e com artistas que apoiam o NAM, com esse objectivo.
Entre as iniciativas levadas a acabo pelo NAM merecem particular destaque
• a realização do colóquio internacional sobre o Campo de Concentração do Tarrafal “Tarrafal uma prisão dois continentes” em Outubro de 2008. O Colóquio, realizado num auditório do Parlamento, contou com o apoio e a participação do presidente da Assembleia da República, Jaime Gama, e do ministro da Justiça, Alberto Costa e teve a participação de ex-presos políticos portugueses, e das antigas colónias de Cabo Verde, da Guiné-Bissau e de Angola.
• E a participação no Simpósio Internacional sobre o campo de concentração do Tarrafal, realizado no próprio local do campo, sob o alto patrocínio do Presidente da República de Cabo Verde, de 28 de Abril a 1 de Maio de 2009.
A exposição A Voz das Vítimas constituirá um momento de grande relevo no esforço de preservação da Memória da luta pela Liberdade e representará, seguramente, um forte estímulo para a expansão dos objectivos do nosso Movimento.
Raimundo Narciso
(Presidente da Direcção do NAM)
Sem comentários:
Enviar um comentário