Os presidentes executivos das 20 maiores cotadas portuguesas viram o salário encolher 33 por cento durante o ano passado, em sintonia com o mais tímido crescimento dos lucros.
A remuneração total dos CEO ultrapassou os 15 milhões de euros, 34 por cento dos quais pagos em prémios, quando em 2009 o peso era de 47 por cento. Por dia, estes gestores ganharam 41.457 euros.
Zeinal Bava, da Portugal Telecom, foi o gestor mais bem pago e recebeu 1,4 milhões de euros num ano em que a PT aumentou os lucros 728 por cento, graças à venda da Vivo, que permitiu um encaixe de 5,5 mil milhões de euros. Tirou o lugar a António Mexia, líder da EDP, que em 2008 tinha recebido 3,1 milhões de euros devido ao facto de ter recebido prémios de desempenho acumulados de três anos. O CEO da EDP é, agora, o quinto executivo melhor remunerado do PSI 20.
A Galp pagou a Ferreira de Oliveira o segundo maior salário do índice bolsista (1,3 milhões de euros), mas o CEO não auferiu prémios. Face a 2009, a sua retribuição encolheu 15 por cento à custa de um corte na componente variável. Já o salário fixo manteve-se inalterado em 1,07 milhões de euros.
Na lista dos mais bem pagos, Ricardo Salgado, do Banco Espírito Santo (que tem uma nova política de remunerações), ocupa o terceiro lugar. Ganhou 1,2 milhões de euros e é um dos três executivos com maior peso do bónus no ordenado. Segue-se Paulo Azevedo, líder da Sonae, que ganhou 1,1 milhões de euros, 695 mil dos quais pagos como prémio.
Com crescimentos mais moderados, as cotadas retraíram-se na hora de pagar aos CEO. Os resultados líquidos do PSI20 atingiram os 10,2 mil milhões de euros, mas o lucro foi inflacionado pela alienação da posição da Portugal Telecom na Vivo, e a venda da participação da CCR por parte da Brisa.
Sem contar com estas operações, as cotadas conseguiram lucrar apenas mais 0,6 por cento o ano passado, atingindo os 4127 milhões de euros, sem interesses minoritários. Face aos lucros, os salários pagos em 2010 representaram 0,15 por cento (ver caixa).
Salário variável em queda
O peso dos prémios no bolo total passou de 47 por cento em 2009 para 34 por cento em 2010. E dos 20 gestores, oito não receberam bónus. Contudo, não significa que tenham auferido menos: a Inapa, liderada por José Félix Morgado, aumentou 15,3 por cento o ordenado fixo do CEO. Pelos cálculos do PÚBLICO, que se basearam nos relatórios e contas do PSI20, Zeinal Bava, Paulo Azevedo, Ricardo Salgado, Ângelo Paupério (Sonaecom) e Pedro Queiroz Pereira (Semapa) tiveram as remunerações variáveis mais elevadas, com valores que oscilaram entre os 553.599 euros e os 721.921 euros.
Ao mesmo tempo, oito CEO viram cair o seu salário total. A maior queda foi protagonizada por António Mexia (recebeu menos 66 por cento), seguido dos gestores que no ano passado lideraram a Cimpor. Ricardo Bayão Horta e Francisco Lacerda ganharam um total de 324.417 euros, menos 62 por cento.
Fora das contas da cimenteira portuguesa ficam ainda os valores recebidos por vários administradores a título de indemnização por terem deixado a empresa antes do final do mandato, como é o caso de Ricardo Bayão Horta, que aos 100,6 milhões recebidos até ao final de Abril juntou mais 820 milhões em compensações financeiras por sair antecipadamente. Em causa esteve uma forte recomposição accionista da Cimpor e a eleição de novos órgãos sociais.
Na Semapa, Pedro Queiroz Pereira auferiu perto de 984 mil euros, um decréscimo de 24 por cento, apesar de o lucro da empresa ter aumentado 60,7 por cento.
BCP, Brisa e REN sem bónus
Tal como no ano passado, Carlos Santos Ferreira, do BCP, não recebeu bónus e o seu salário total caiu 29 por cento. Na Brisa, e pelo segundo ano, Vasco de Mello, prescindiu de receber remuneração variável. O seu ordenado caiu dois por cento, para 483.181 euros, valor que inclui benefícios em complementos de reforma. O sector público também não teve direito a retribuição variável, por imposição governamental: Rui Cartaxo, CEO da REN, teve um salário de 340.151 euros, menos 0,45 por cento do que em 2009.
Na lista dos cinco presidentes executivos com o maior salário fixo, depois de Ferreira de Oliveira, António Mexia e Zeinal Bava, está Rodrigo Costa, o CEO da Zon que em 2010 ganhou 695.002 euros
As cotadas divulgaram em detalhe e de forma individualizada a remuneração dos presidentes e restantes administradores executivos pela primeira vez em 2009.
O tema é polémico e a imposição da Comissão de Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) continua a não agradar a todos. No seu relatório e contas, a Jerónimo Martins desabafa: "[O] melindre interno e externo que tal divulgação pode suscitar não contribui, na opinião do conselho de administração, para a melhoria de desempenho dos seus membros."
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