2015-06-26

VAROUFAKIS entrevistado por Janice Turner no “The Times Magazine”/ The Interview People

Grande entrevista: as confissões, motivações e explicações de Varoufakis
Ele esclarece o casaco de couro e a gravata ausente: “Quem usa os melhores fatos Armani? Os mafiosos. Isso faz deles gente respeitável?”. Mas esse é o Varoufakis rock star, porque depois há o outro, governante de um país no purgatório - Tsipras avisou-o de antemão. “Disse-me: 'Ouve, vão tentar abater-te, abrir brechas entre nós, porque tu és a lebre. Se te atirarem abaixo, depois lançam-se a mim’.” Yanis Varoufakis, ministro grego das Finanças, concedeu esta entrevista no início de junho, mês que tem sido marcado pelo impasse nas negociações entre Atenas e as instituições europeias. “Quando aprender as maneiras dos políticos, demito-me. Por outras palavras, quando começar a mentir e a não chamar espada a uma espada, deixei de ser útil.” E tem um recado: “Quem se entusiasma com o poder político devia ser impedido de o ter”.
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O epicentro da crise económica europeia assenta numa suja rua secundária nas traseiras da Rua Oxford de Atenas. Dois cães vadios dormem no chão quente, à porta. Conduzida pela segurança lânguida até ao sexto andar, sento-me numa sala de espera com o ar condicionado avariado. Passa uma hora. Membros do staff, em calças de ganga e t-shirt, saem de uma sala de reuniões, a falar alto. Mas eu estou preparada para esperar. Para ser franca, estou até espantada que o ministro grego das Finanças, Yanis Varoufakis, tenha tempo para me receber.

A nossa entrevista estava marcada para Paris, no elegante Hotel du Collectionneur, junto ao Arco do Triunfo. Mas de repente recebi uma mensagem do assessor de imprensa do Governo do Syriza: “URGENTE-URGENTE; VIAGEM A PARIS CANCELADA DEVIDO A DESENVOLVIMENTOS MUITO GRAVES NAS NEGOCIAÇÕES". Varoufakis tinha de ficar em Atenas, enquanto o seu primeiro-ministro, Alexis Tsipras, voava para Bruxelas. A situação estava, para dizer o menos, fluida. 
Dois dias depois de nos encontrarmos, a Grécia devia fazer o seu primeiro pagamento de junho ao Fundo Monetário Internacional (FMI), no valor de 310 milhões de euros, iniciando uma série de reembolsos que totalizarão 13 mil milhões de euros até ao fim do mês. A Grécia já andou à cata de trocos no forro do sofá da nação. Hospitais, universidades e autarquias locais entregaram as suas reservas ao Governo; o Estado protela os pagamentos aos fornecedores, para ter dinheiro vivo. Depois de cinco anos de austeridade, a economia grega encolheu 25% e mantém-se em recessão; um quarto da população (e 60% dos jovens) está no desemprego.
Do que a Grécia precisa, do que espera neste carrossel pede-a-Pedro-para-pagar-a-Paulo da finança mundial, é de mais um empréstimo, de 7,2 mil milhões de euros, de resgate da chamada “troika” de instituições financeiras: FMI, Banco Central Europeu e Comissão Europeia. Mas o dinheiro está a ser retido até a Grécia concordar em cumprir as exigências da troika: mais privatizações, mais cortes nas pensões e mais mudanças nas leis laborais que facilitem os despedimentos. Por outras palavras, mais austeridade, precisamente o que o Governo radical do Syriza foi mandatado para combater após a sua retumbante vitória eleitoral.  
As conversações, que oscilaram entre Riga, Berlim, Paris e Bruxelas, tornaram-se num jogo do sisudo. Quem pisca primeiro os olhos? Quem sorri primeiro? A Grécia, que se arrisca ao incumprimento, saindo do euro e mergulhando na completa depressão? Ou os eurocratas, que temem que o “Grexit”, a saída do país da Zona Euro, desestabilize a união monetária e que os gregos se encostem à Rússia? 
Conversa abertamente, interrompendo-se de dez em dez minutos para atender o telefone. A última chamada – “Olá, Larry!” – para falar com Larry Summers, o professor de Harvard e secretário do Tesouro de Clinton, é feita na casa de banho privada
Quando o adido de imprensa aparece, um homem grande e pesado vem com ele a abanar a cabeça. “A situação é terrível.” Mas o intelectual que acredita que um país falido de 11 milhões de habitantes pode levar a melhor sobre os alemães, que a economia radical pode derrotar o neoliberalismo, não parece aterrorizado. Yanis Varoufakis inclina-se para me cumprimentar, os olhos brilhantes.
Conversa abertamente, interrompendo-se de dez em dez minutos para atender o telefone. A última chamada – “Olá, Larry!” – para falar com Larry Summers, o professor de Harvard e secretário do Tesouro de Clinton, é feita na casa de banho privada. Varoufakis, 54 anos, não parece esmagado por ter às costas o destino da nação. À medida que me fala dos seus dias de 16 horas, de ter ido falar com Alexis Tsipras na véspera, às 20h, só tendo ido para casa à meia-noite, e quando diz que “estes últimos quatro meses parecem um século”, parece apenas excitado. Suspeito que o académico que há nele está entusiasmado por todo este material em primeira mão. Vai escrever um livro? “Claro que vou! Ha, ha!” 
Varoufakis descreveu-se a si mesmo como um “economista acidental” e diz agora que é um “político relutante”
E ele é, claro, o menos enfadado dos políticos. Quando lhe pergunto se, enquanto jovem assistente na Universidade de Essex  – onde a sua máxima “Subvertam o paradigma dominante” foi estampada em t-shirts pelos estudantes  – poderia imaginar-se ministro das Finanças, Varoufakis ri-se. “Nem há um ano poderia imaginar!” Na verdade, estava a trabalhar no Texas quando o Syriza o pôs nas listas. Não era membro do partido e continua a não o ser, ainda que nas eleições de janeiro tenha recolhido a maior votação de todos os candidatos apoiados pelo Syriza.
Varoufakis, apesar dos muitos livros que escreveu, descreveu-se a si mesmo como um “economista acidental” e diz agora que é um “político relutante”. É este o seu superpoder. Como professor, não conseguia perceber como alguém podia ambicionar ser chefe de departamento: “É tão rotineiro. Como é que se pode ambicionar isso, a menos que se seja um mau académico?”. “Da mesma forma, acredito em políticos relutantes. Uma pessoa que se entusiasme com o poder político devia ser impedida de o ter.”
Na primeira reunião do Governo do Syriza, conta, o novo primeiro-ministro disse: “Rapazes, lembrem-se: não queremos saber dos nossos gabinetes”. Varoufakis olha à sua volta, com as suas pinturas modernas, as plantas yucca, as estantes de livros de economia e uma ausência total de objetos pessoais, e depois ergue os braços do sofá magenta. “Não estou ligado a este gabinete, a este sofá. Quero dizer, se ficar sem eles amanhã, estou-me nas tintas. Isso, acho, é fundamental. Se começamos a sentir que perdemos a nossa posição ministerial – as sondagens estão a resvalar, meu deus, o Wall Street Journal não está a dizer grande coisa sobre mim, se calhar estou de saída –, se começamos a ralar-nos com isso, então muito depressa perdemos a força.”
Este Varoufakis recusa-se a aceitar que o seu caráter, as suas ideias ou o seu discurso extravagante tenham tido consequências mistas. A sua cabeça rapada, o seu ar sexy, o casaco de couro que vestia durante a sua digressão inaugural pelos líderes europeus e a moto com que anda sempre fizeram-no destacar-se como uma estrela rock entre os engravatados.
“A minha moto está lá em baixo”, diz. “Vim com ela de manhã. Comprei a minha primeira moto em 1978, em Colchester, e sempre tive moto desde então.” Mandou vender o BMW ministerial à prova de bala e no valor de 350 mil euros e usa um Toyota com seis anos para o levar ao aeroporto. “E sempre tive também casacos de couro”, acrescenta, embora neste calor de junho esteja de jeans e camisa roxa desabotoada. “Portanto, não sei porque deveria mudar só porque sou ministro das Finanças. É muito simples, no que me diz respeito. Quem usa os melhores fatos Armani? Os mafiosos. Isso faz deles gente respeitável?”
Mas o seu discurso aberto e rumores de mau feitio significaram que após a cimeira de Riga ele fosse rotulado de peso-leve diletante que impede qualquer acordo. Disse-se que Tsipras o tinha posto de lado ou que sairia em breve do Governo. Varoufakis respondeu no Twitter com uma citação de Roosevelt: “São unânimes no seu ódio por mim; e eu aprecio o seu ódio”. Foi a sua mensagem à comunicação social, que acusava de espalhar “propaganda negra”, e escolheu Roosevelt porque também se vê como autor de um New Deal. 
É função do ministro das Finanças ser um farol para os críticos, ser o polícia mau que fala grosso. Tsipras avisou-o de antemão. “Disse-me 'ouve, vão tentar abater-te, abrir brechas entre nós, porque tu és a lebre. Se te atirarem abaixo, depois lançam-se a mim'.” Não foi afastado das conversações, afirma; não estava nessa altura em Bruxelas porque o seu homónimo, o ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble, não tinha ido lá.
Varoufakis está refrescantemente livre do estilo treinado para os media de fugir às questões. Abre um livro de candura e eloquência. Quando lhe digo que ainda não aprendeu as maneiras dos políticos, diz com dramatismo: “Quando as aprender, demito-me. Por outras palavras, quando começar a mentir e a não chamar espada a uma espada, deixei de ser útil. Não acho que o mundo, e a Grécia de certeza, precise de mais um político que distorça a realidade. Eu não falei de mais, só falei verdade”.
Na sua eleição, causou furor ao declarar “sou o ministro das Finanças de um Estado na bancarrota”. Mas isto, afirma, é um simples facto. A Grécia não sofre de falta de liquidez - é insolvente. E não há empréstimo que a cure. “É como um amigo seu que não pode pagar a hipoteca da casa obtendo um novo cartão de crédito e dizendo que o problema está resolvido.”
Diz que recebe ameaças de morte desde a crise de 2010, quando se manifestou exaltado contra os resgates, contra os cleptocratas que esgotaram os fundos e contra a injustiça que é o grego comum sofrer pelo desgoverno dos banqueiros. 
O que é preciso, reclama Varoufakis, não é só investimento na Grécia, mas generosidade de espírito. Fala do famoso “discurso da esperança” feito pelo secretário de Estado norte-americano James Byrnes à Alemanha em 1946, como prelúdio do Plano Marshall. Foi a declaração da América de que desejava a paz com o seu inimigo derrotado; de que a Alemanha tinha o direito de voltar a ser próspera à custa de trabalho esforçado. O discurso de esperança da Grécia, declara, deve ser feito por Angela Merkel.
Quando negoceia, mantém presente vários gregos que lhe exemplificam os males do país: pensa num casal de empresários que conheceu e que tenta erguer das cinzas uma start-up arrasada pelo sistema fiscal; lembra-se de um homem de quarenta e muitos anos que veio servir de tradutor quando Varoufakis deu uma entrevista a um jornal espanhol - antigo professor de línguas com família, vive agora na rua. “Disse-me: 'apoio-o, mas não pode fazer nada por mim. Estou feito. Acabado. Faça qualquer coisa é pelos que estão à beira do precipício e ainda não caíram'.”
Depois, numa noite em que foi beber um copo com a mulher, a artista Danae Stratou, ao bairro rico de Kolonaki, em Atenas, viu “uma idosa muito bonita, dos seus oitenta, muito limpa e bem arranjada, sentada num banco de jardim”. Veio a saber que era uma burguesa que vivia num dos apartamentos da zona e que se tinha tornado numa sem-abrigo. “Passa ali a noite e quem a conhece toma conta dela.”
E depois há os seus antigos alunos da Universidade de Atenas. Antes da crise, faziam fila à porta do seu gabinete para pedir recomendações para os mestrados. Depois de 2010 pediam-lhe referências para irem trabalhar para o estrangeiro. Ele próprio se juntou à fuga de cérebros, em 2012, saindo para os Estados Unidos desencantado com o desfazer do seu departamento e com o corte no salário, que significava que não podia apoiar a filha, Xenia, que desde 2005 vive com a sua ex-mulher, a académica Margarite Poulos, em Sydney.
Embora seja um político recente, Varoufakis foi criado num ambiente muito politizado. O seu pai, Giorgos, que subiu a pulso até se tornar presidente da maior siderurgia grega, lutou do lado dos comunistas na guerra civil; a sua mãe, bioquímica, era militante feminista. O pai foi preso uns tempos pela junta militar que deteve o poder na Grécia no final dos anos 60, princípio da década de 70 do século passado; o tio esteve preso vários anos. “Lembro-me de a porta ser arrombada ao pontapé pela polícia secreta”, recorda Varoufakis. À noite, a família juntava-se em segredo a ouvir a BBC, cuja emissão estava proibida.
Saiu para estudar em Inglaterra com 17 anos - ficando por lá até aos 27 - e foi-lhe difícil transmitir aos amigos britânicos o horror de viver em ditadura. Está à vontade no Reino Unido e cita os Monty Python nos seus discursos perante os (provavelmente intrigados) alemães. Está, no entanto, surpreendido com a urgência dos britânicos em deixar a União Europeia. “Acho que há um bocado de paranoia na Grã Bretanha. Estão à procura de um bode expiatório.” Um dos seus melhores amigos na política internacional é Norman Lamont. “Dou-me melhor com os Conservadores do que com a esquerda, o que me cria uma grande dose de angústia existencial.”

Deve conhecer a visão popular no norte da Europa de que, por muito lamentável que seja a provação do povo grego, a sua miséria é autoinfligida. A evasão fiscal na Grécia é endémica, a política suja, a idade de reforma baixa, o sector público hiperdimensionado — e isto endurece os corações. “São grandes mentiras baseadas numa miríade de pequenas verdades”, diz Varoufakis. “A imunidade fiscal para os poderosos, a corrupção, uma oligarquia que gere tudo mal… Sim, montes de coisas mal feitas. Isso é assim desde 1827, quando o Estado grego moderno foi criado.” Mas, argumenta, o Estado grego vive dentro das suas possibilidades no que toca a salários e pensões - só está paralisado pelas dívidas. E os atuais problemas da Grécia vêm da própria entrada do país na Zona Euro: “A crise que tivemos nos últimos sete anos não teria simplesmente existido. Em 2008, teríamos tido uma pequena correção, mais ou menos como a Bulgária. E nos últimos três ou quatro anos temos crescido muito rapidamente.”
“São grandes mentiras baseadas numa miríade de pequenas verdades”, diz Varoufakis, referindo-se às acusações de que a evasão fiscal na Grécia é endémica, a política suja, a idade de reforma baixa, o sector público hiperdimensionado
Onde o Syriza concorda com a troika é na necessidade de uma reforma fiscal. Mas, dos bancos da Grécia, já foram tirados milhares de milhões de capital, levado para o estrangeiro ou disperso de outras formas. Os ricos não vão fugir? “É deixá-los ir”, diz Varoufakis com um gesto vago. “Eles já foram, de qualquer forma - o seu dinheiro está em Londres ou nas Ilhas Caimão. Por isso, acho que nos desenvencilhamos sem eles. O que precisamos de fazer é travar este regime que perpetua e reproduz as coisas más.”
“Destruição. Completa destruição”. (...) “Não sobraria nada; voltava tudo à Idade da Pedra. Por isso não estou preparado para realizar essa experiência de nos libertarmos do euro. Acho que temos de consertar o euro”, refere Varoufakis
Mas e quanto àqueles que dizem que a Grécia mascarou as dívidas para atingir os critérios de entrada no euro? “Acredita mesmo que os europeus são tão facilmente enganados?”, exclama. “Que lhes mentimos e nos safámos? Dizer que os governos gregos da época conseguiram mentir para entrar é simplesmente desonesto.”  “Claro” que a Grécia “não devia ter entrado no euro”, mas uma vez que a sua situação é integralmente causada por essa entrada, cabe à Europa resolver a crise resultante.
Não sente, após meses de negociações, que a Alemanha e a Grécia são simplesmente irreconciliáveis? “Sou um otimista”, diz. O que mais o desapontou nas conversações, depois de anos de universidade, é a falta de rigor e superficialidade dos debates. Dez minutos para cada, “burocratas não eleitos falam na perspetiva das suas instituições e depois passamos horas a discutir o comunicado final”.

Wolfgang Schäuble tem sido o mais firme opositor da Grécia, insistindo em medidas de austeridade, mas Varoufakis diz que o prefere a outros negociadores com duas faces. “Gosto das nossas reuniões, porque ele também chama espada a uma espada. Por isso, quando falamos, é tudo muito civilizado, cheio de respeito mútuo – discordamos, mas sei que posso acreditar no que ele me diz.”

No turbilhão de especulações sobre as intenções do Syriza, há uma teoria de que Varoufakis, que escreveu livros sobre a teoria dos jogos, está secretamente a trabalhar num plano B - a saída da Grécia do euro. Mas ele rejeita isto com veemência: “Não tenho mandato para empobrecer mais um milhão ou dois de gregos, para fazer uma experiência social, pôr quatro milhões de pessoas a viver abaixo da linha de pobreza, só para ver em quanto tempo recuperamos mais tarde”.

Não seria como o seu amigo Norman Lamont a assobiar no duche depois de ter retirado a libra do mecanismo de câmbio europeu. Levaria um ano à Grécia para criar uma nova moeda.  “Imagine se a Grã Bretanha anunciasse com um ano de avanço que ia desvalorizar a libra. Destruição. Completa destruição. Toda a gente se punha a vender e a retirar todo o capital do Reino Unido. Não sobraria nada; voltava tudo à Idade da Pedra. Por isso não estou preparado para realizar essa experiência de nos libertarmos do euro. Acho que temos de consertar o euro.”

O Syriza estabeleceu muitas “linhas vermelhas” nas negociações. Mas quais são as suas próprias? “Eu só não quero dar muita importância ao facto de ser político e ainda menos de ser ministro. Não vou negociar a minha integridade para manter este cargo.” Demitir-se-ia, declara, se não fosse capaz de libertar a Grécia do seu eterno ciclo empréstimo-pagamento-austeridade.

Mas avisa com ar soturno: se a Grécia for à bancarrota e deixar o euro, se o país mergulhar no passado, o governo do Syriza não será substituído pelos velhos partidos centristas que falharam, mas pela Aurora Dourada, o partido neonazi grego. “Este é um país que lutou com unhas e dentes contra os nazis. Os três países europeus que tiveram uma maior percentagem de baixas no combate aos nazis foram a Rússia, a Jugoslávia e a Grécia. Um movimento nazi indígena na Grécia é uma afronta à nossa História.” Mas a combinação da implosão económica e da humilhação nacional  – “como vocês, europeus, dizem, os gregos são um caso perdido de aldrabões do fisco e preguiçosos, não é?” – pode levá-la ao poder.
E para onde iria Varoufakis? “De volta para a universidade”, diz, encolhendo os ombros. Sente falta de ter tempo para ler e de correr na rua sem ser detido por cidadãos que querem contar-lhe as suas histórias pessoais. (Diz-me que está morto por ir ao ginásio: “Limpa-me a cabeça como mais nada”) Com a sua bela Danae, ainda come em esplanadas de Atenas sem seguranças, mesmo depois do incidente de abril em que foi cercado e ameaçado por anarquistas. Embora nos dias que correm tenha muito pouco tempo para gozar o seu pequeno barco e outros prazeres da vida. Depois de uma sessão fotográfica para a “Paris Match” de que hoje se arrepende, foi criticado por ousar comer peixe no seu terraço durante a crise. “Não sou católico - não acredito no purgatório e na autoflagelação. As pessoas dizem-me, 'Foste apanhado a beber vinho'. E daí?”
Entretanto, o telefone toca. Em Bruxelas e Berlim e Washington, banqueiros e burocratas dão voltas à cabeça para saberem como lidar com este político relutante que continua a subverter o paradigma dominante, porque ele e o seu país sentem que têm tudo a perder.

 

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