[Expresso]
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O epicentro da crise económica europeia assenta numa suja rua
secundária nas traseiras da Rua Oxford de Atenas. Dois cães vadios dormem no
chão quente, à porta. Conduzida pela segurança lânguida até ao sexto andar,
sento-me numa sala de espera com o ar condicionado avariado. Passa uma hora.
Membros do staff, em calças de ganga e t-shirt, saem de uma sala de reuniões, a
falar alto. Mas eu estou preparada para esperar. Para ser franca, estou até
espantada que o ministro grego das Finanças, Yanis Varoufakis, tenha tempo para
me receber.
A nossa entrevista estava marcada para Paris, no elegante Hotel du
Collectionneur, junto ao Arco do Triunfo. Mas de repente recebi uma mensagem do
assessor de imprensa do Governo do Syriza: “URGENTE-URGENTE; VIAGEM A PARIS
CANCELADA DEVIDO A DESENVOLVIMENTOS MUITO GRAVES NAS NEGOCIAÇÕES".
Varoufakis tinha de ficar em Atenas, enquanto o seu primeiro-ministro, Alexis
Tsipras, voava para Bruxelas. A situação estava, para dizer o menos, fluida.
Dois dias depois de nos encontrarmos, a Grécia devia fazer o seu
primeiro pagamento de junho ao Fundo Monetário Internacional (FMI), no valor de
310 milhões de euros, iniciando uma série de reembolsos que totalizarão 13 mil
milhões de euros até ao fim do mês. A Grécia já andou à cata de trocos no forro
do sofá da nação. Hospitais, universidades e autarquias locais entregaram as
suas reservas ao Governo; o Estado protela os pagamentos aos fornecedores, para
ter dinheiro vivo. Depois de cinco anos de austeridade, a economia grega
encolheu 25% e mantém-se em recessão; um quarto da população (e 60% dos jovens)
está no desemprego.
Do que a Grécia precisa, do que espera neste carrossel
pede-a-Pedro-para-pagar-a-Paulo da finança mundial, é de mais um empréstimo, de
7,2 mil milhões de euros, de resgate da chamada “troika” de instituições
financeiras: FMI, Banco Central Europeu e Comissão Europeia. Mas o dinheiro
está a ser retido até a Grécia concordar em cumprir as exigências da troika:
mais privatizações, mais cortes nas pensões e mais mudanças nas leis laborais
que facilitem os despedimentos. Por outras palavras, mais austeridade,
precisamente o que o Governo radical do Syriza foi mandatado para combater após
a sua retumbante vitória eleitoral.
As conversações, que oscilaram entre Riga, Berlim, Paris e
Bruxelas, tornaram-se num jogo do sisudo. Quem pisca primeiro os olhos? Quem
sorri primeiro? A Grécia, que se arrisca ao incumprimento, saindo do euro e
mergulhando na completa depressão? Ou os eurocratas, que temem que o “Grexit”,
a saída do país da Zona Euro, desestabilize a união monetária e que os gregos
se encostem à Rússia?
Conversa abertamente, interrompendo-se de dez em dez minutos para
atender o telefone. A última chamada – “Olá, Larry!” – para falar com Larry
Summers, o professor de Harvard e secretário do Tesouro de Clinton, é feita na
casa de banho privada
Quando o adido de imprensa aparece, um homem grande e pesado vem
com ele a abanar a cabeça. “A situação é terrível.” Mas o intelectual que
acredita que um país falido de 11 milhões de habitantes pode levar a melhor
sobre os alemães, que a economia radical pode derrotar o neoliberalismo, não
parece aterrorizado. Yanis Varoufakis inclina-se para me cumprimentar, os olhos
brilhantes.
Conversa abertamente, interrompendo-se de dez em dez minutos para
atender o telefone. A última chamada – “Olá, Larry!” – para falar com Larry
Summers, o professor de Harvard e secretário do Tesouro de Clinton, é feita na
casa de banho privada. Varoufakis, 54 anos, não parece esmagado por ter às
costas o destino da nação. À medida que me fala dos seus dias de 16 horas, de
ter ido falar com Alexis Tsipras na véspera, às 20h, só tendo ido para casa à
meia-noite, e quando diz que “estes últimos quatro meses parecem um século”,
parece apenas excitado. Suspeito que o académico que há nele está entusiasmado
por todo este material em primeira mão. Vai escrever um livro? “Claro que vou!
Ha, ha!”
Varoufakis descreveu-se a si mesmo como um “economista acidental”
e diz agora que é um “político relutante”
E ele é, claro, o menos enfadado dos políticos. Quando lhe
pergunto se, enquanto jovem assistente na Universidade de Essex – onde a
sua máxima “Subvertam o paradigma dominante” foi estampada em t-shirts pelos
estudantes – poderia imaginar-se ministro das Finanças, Varoufakis ri-se.
“Nem há um ano poderia imaginar!” Na verdade, estava a trabalhar no Texas
quando o Syriza o pôs nas listas. Não era membro do partido e continua a não o
ser, ainda que nas eleições de janeiro tenha recolhido a maior votação de todos
os candidatos apoiados pelo Syriza.
Varoufakis, apesar dos muitos livros que escreveu, descreveu-se a
si mesmo como um “economista acidental” e diz agora que é um “político
relutante”. É este o seu superpoder. Como professor, não conseguia perceber
como alguém podia ambicionar ser chefe de departamento: “É tão rotineiro. Como
é que se pode ambicionar isso, a menos que se seja um mau académico?”. “Da
mesma forma, acredito em políticos relutantes. Uma pessoa que se entusiasme com
o poder político devia ser impedida de o ter.”
Na primeira reunião do Governo do Syriza, conta, o novo
primeiro-ministro disse: “Rapazes, lembrem-se: não queremos saber dos nossos
gabinetes”. Varoufakis olha à sua volta, com as suas pinturas modernas, as
plantas yucca, as estantes de livros de economia e uma ausência total de
objetos pessoais, e depois ergue os braços do sofá magenta. “Não estou ligado a
este gabinete, a este sofá. Quero dizer, se ficar sem eles amanhã, estou-me nas
tintas. Isso, acho, é fundamental. Se começamos a sentir que perdemos a nossa
posição ministerial – as sondagens estão a resvalar, meu deus, o Wall Street
Journal não está a dizer grande coisa sobre mim, se calhar estou de saída –, se
começamos a ralar-nos com isso, então muito depressa perdemos a força.”
Este Varoufakis recusa-se a aceitar que o seu caráter, as suas
ideias ou o seu discurso extravagante tenham tido consequências mistas. A sua
cabeça rapada, o seu ar sexy, o casaco de couro que vestia durante a sua
digressão inaugural pelos líderes europeus e a moto com que anda sempre
fizeram-no destacar-se como uma estrela rock entre os engravatados.
“A minha moto está lá em baixo”, diz. “Vim com ela de manhã.
Comprei a minha primeira moto em 1978, em Colchester, e sempre tive moto desde
então.” Mandou vender o BMW ministerial à prova de bala e no valor de 350 mil
euros e usa um Toyota com seis anos para o levar ao aeroporto. “E sempre tive
também casacos de couro”, acrescenta, embora neste calor de junho esteja de
jeans e camisa roxa desabotoada. “Portanto, não sei porque deveria mudar só
porque sou ministro das Finanças. É muito simples, no que me diz respeito. Quem
usa os melhores fatos Armani? Os mafiosos. Isso faz deles gente respeitável?”
Mas o seu discurso aberto e rumores de mau feitio significaram que
após a cimeira de Riga ele fosse rotulado de peso-leve diletante que impede
qualquer acordo. Disse-se que Tsipras o tinha posto de lado ou que sairia em
breve do Governo. Varoufakis respondeu no Twitter com uma citação de Roosevelt:
“São unânimes no seu ódio por mim; e eu aprecio o seu ódio”. Foi a sua mensagem
à comunicação social, que acusava de espalhar “propaganda negra”, e escolheu
Roosevelt porque também se vê como autor de um New Deal.
É função do ministro das Finanças ser um farol para os críticos,
ser o polícia mau que fala grosso. Tsipras avisou-o de antemão. “Disse-me
'ouve, vão tentar abater-te, abrir brechas entre nós, porque tu és a lebre. Se
te atirarem abaixo, depois lançam-se a mim'.” Não foi afastado das
conversações, afirma; não estava nessa altura em Bruxelas porque o seu
homónimo, o ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble, não tinha ido lá.
Varoufakis está refrescantemente livre do estilo treinado para os
media de fugir às questões. Abre um livro de candura e eloquência. Quando lhe
digo que ainda não aprendeu as maneiras dos políticos, diz com dramatismo:
“Quando as aprender, demito-me. Por outras palavras, quando começar a mentir e
a não chamar espada a uma espada, deixei de ser útil. Não acho que o mundo, e a
Grécia de certeza, precise de mais um político que distorça a realidade. Eu não
falei de mais, só falei verdade”.
Na sua eleição, causou furor ao declarar “sou o ministro das
Finanças de um Estado na bancarrota”. Mas isto, afirma, é um simples facto. A
Grécia não sofre de falta de liquidez - é insolvente. E não há empréstimo que a
cure. “É como um amigo seu que não pode pagar a hipoteca da casa obtendo um
novo cartão de crédito e dizendo que o problema está resolvido.”
Diz que recebe ameaças de morte desde a crise de 2010, quando se
manifestou exaltado contra os resgates, contra os cleptocratas que esgotaram os
fundos e contra a injustiça que é o grego comum sofrer pelo desgoverno dos
banqueiros.
O que é preciso, reclama Varoufakis, não é só investimento na
Grécia, mas generosidade de espírito. Fala do famoso “discurso da esperança”
feito pelo secretário de Estado norte-americano James Byrnes à Alemanha em
1946, como prelúdio do Plano Marshall. Foi a declaração da América de que
desejava a paz com o seu inimigo derrotado; de que a Alemanha tinha o direito
de voltar a ser próspera à custa de trabalho esforçado. O discurso de esperança
da Grécia, declara, deve ser feito por Angela Merkel.
Quando negoceia, mantém presente vários gregos que lhe
exemplificam os males do país: pensa num casal de empresários que conheceu e
que tenta erguer das cinzas uma start-up arrasada pelo sistema fiscal; lembra-se
de um homem de quarenta e muitos anos que veio servir de tradutor quando
Varoufakis deu uma entrevista a um jornal espanhol - antigo professor de
línguas com família, vive agora na rua. “Disse-me: 'apoio-o, mas não pode fazer
nada por mim. Estou feito. Acabado. Faça qualquer coisa é pelos que estão à
beira do precipício e ainda não caíram'.”
Depois, numa noite em que foi beber um copo com a mulher, a
artista Danae Stratou, ao bairro rico de Kolonaki, em Atenas, viu “uma idosa
muito bonita, dos seus oitenta, muito limpa e bem arranjada, sentada num banco
de jardim”. Veio a saber que era uma burguesa que vivia num dos apartamentos da
zona e que se tinha tornado numa sem-abrigo. “Passa ali a noite e quem a
conhece toma conta dela.”
E depois há os seus antigos alunos da Universidade de Atenas.
Antes da crise, faziam fila à porta do seu gabinete para pedir recomendações
para os mestrados. Depois de 2010 pediam-lhe referências para irem trabalhar
para o estrangeiro. Ele próprio se juntou à fuga de cérebros, em 2012, saindo
para os Estados Unidos desencantado com o desfazer do seu departamento e com o
corte no salário, que significava que não podia apoiar a filha, Xenia, que
desde 2005 vive com a sua ex-mulher, a académica Margarite Poulos, em Sydney.
Embora seja um político recente, Varoufakis foi criado num
ambiente muito politizado. O seu pai, Giorgos, que subiu a pulso até se tornar
presidente da maior siderurgia grega, lutou do lado dos comunistas na guerra
civil; a sua mãe, bioquímica, era militante feminista. O pai foi preso uns
tempos pela junta militar que deteve o poder na Grécia no final dos anos 60,
princípio da década de 70 do século passado; o tio esteve preso vários anos.
“Lembro-me de a porta ser arrombada ao pontapé pela polícia secreta”, recorda
Varoufakis. À noite, a família juntava-se em segredo a ouvir a BBC, cuja
emissão estava proibida.
Saiu para estudar em Inglaterra com 17 anos - ficando por lá até
aos 27 - e foi-lhe difícil transmitir aos amigos britânicos o horror de viver
em ditadura. Está à vontade no Reino Unido e cita os Monty Python nos seus
discursos perante os (provavelmente intrigados) alemães. Está, no entanto,
surpreendido com a urgência dos britânicos em deixar a União Europeia. “Acho
que há um bocado de paranoia na Grã Bretanha. Estão à procura de um bode
expiatório.” Um dos seus melhores amigos na política internacional é Norman
Lamont. “Dou-me melhor com os Conservadores do que com a esquerda, o que me
cria uma grande dose de angústia existencial.”
Deve conhecer a visão popular no norte da Europa de que, por muito
lamentável que seja a provação do povo grego, a sua miséria é autoinfligida. A
evasão fiscal na Grécia é endémica, a política suja, a idade de reforma baixa,
o sector público hiperdimensionado — e isto endurece os corações. “São grandes
mentiras baseadas numa miríade de pequenas verdades”, diz Varoufakis. “A
imunidade fiscal para os poderosos, a corrupção, uma oligarquia que gere tudo
mal… Sim, montes de coisas mal feitas. Isso é assim desde 1827, quando o Estado
grego moderno foi criado.” Mas, argumenta, o Estado grego vive dentro das suas
possibilidades no que toca a salários e pensões - só está paralisado pelas
dívidas. E os atuais problemas da Grécia vêm da própria entrada do país na Zona
Euro: “A crise que tivemos nos últimos sete anos não teria simplesmente
existido. Em 2008, teríamos tido uma pequena correção, mais ou menos como a
Bulgária. E nos últimos três ou quatro anos temos crescido muito rapidamente.”
“São grandes mentiras baseadas numa miríade de pequenas verdades”,
diz Varoufakis, referindo-se às acusações de que a evasão fiscal na Grécia é
endémica, a política suja, a idade de reforma baixa, o sector público
hiperdimensionado
Onde o Syriza concorda com a troika é na
necessidade de uma reforma fiscal. Mas, dos bancos da Grécia, já foram tirados
milhares de milhões de capital, levado para o estrangeiro ou disperso de outras
formas. Os ricos não vão fugir? “É deixá-los ir”, diz Varoufakis com um gesto
vago. “Eles já foram, de qualquer forma - o seu dinheiro está em Londres ou nas
Ilhas Caimão. Por isso, acho que nos desenvencilhamos sem eles. O que
precisamos de fazer é travar este regime que perpetua e reproduz as coisas más.”
“Destruição. Completa destruição”. (...) “Não sobraria nada;
voltava tudo à Idade da Pedra. Por isso não estou preparado para realizar essa
experiência de nos libertarmos do euro. Acho que temos de consertar o euro”,
refere Varoufakis
Mas e quanto àqueles que dizem que a Grécia
mascarou as dívidas para atingir os critérios de entrada no euro? “Acredita
mesmo que os europeus são tão facilmente enganados?”, exclama. “Que lhes
mentimos e nos safámos? Dizer que os governos gregos da época conseguiram
mentir para entrar é simplesmente desonesto.” “Claro” que a Grécia “não
devia ter entrado no euro”, mas uma vez que a sua situação é integralmente
causada por essa entrada, cabe à Europa resolver a crise resultante.
Não sente, após meses de negociações, que a Alemanha e a Grécia
são simplesmente irreconciliáveis? “Sou um otimista”, diz. O que mais o
desapontou nas conversações, depois de anos de universidade, é a falta de rigor
e superficialidade dos debates. Dez minutos para cada, “burocratas não eleitos
falam na perspetiva das suas instituições e depois passamos horas a discutir o
comunicado final”.
Wolfgang Schäuble tem sido o mais firme opositor da Grécia,
insistindo em medidas de austeridade, mas Varoufakis diz que o prefere a outros
negociadores com duas faces. “Gosto das nossas reuniões, porque ele também
chama espada a uma espada. Por isso, quando falamos, é tudo muito civilizado,
cheio de respeito mútuo – discordamos, mas sei que posso acreditar no que ele
me diz.”
No turbilhão de especulações sobre as intenções do Syriza, há uma
teoria de que Varoufakis, que escreveu livros sobre a teoria dos jogos, está
secretamente a trabalhar num plano B - a saída da Grécia do euro. Mas ele
rejeita isto com veemência: “Não tenho mandato para empobrecer mais um milhão
ou dois de gregos, para fazer uma experiência social, pôr quatro milhões de
pessoas a viver abaixo da linha de pobreza, só para ver em quanto tempo
recuperamos mais tarde”.
Não seria como o seu amigo Norman Lamont a assobiar no duche
depois de ter retirado a libra do mecanismo de câmbio europeu. Levaria um ano à
Grécia para criar uma nova moeda. “Imagine se a Grã Bretanha anunciasse
com um ano de avanço que ia desvalorizar a libra. Destruição. Completa
destruição. Toda a gente se punha a vender e a retirar todo o capital do Reino
Unido. Não sobraria nada; voltava tudo à Idade da Pedra. Por isso não estou
preparado para realizar essa experiência de nos libertarmos do euro. Acho que
temos de consertar o euro.”
O Syriza estabeleceu muitas “linhas vermelhas” nas
negociações. Mas quais são as suas próprias? “Eu só não quero dar muita
importância ao facto de ser político e ainda menos de ser ministro. Não vou
negociar a minha integridade para manter este cargo.” Demitir-se-ia,
declara, se não fosse capaz de libertar a Grécia do seu eterno ciclo
empréstimo-pagamento-austeridade.
Mas avisa com ar soturno: se a Grécia for à bancarrota e deixar o
euro, se o país mergulhar no passado, o governo do Syriza não será substituído
pelos velhos partidos centristas que falharam, mas pela Aurora Dourada, o
partido neonazi grego. “Este é um país que lutou com unhas e dentes contra os
nazis. Os três países europeus que tiveram uma maior percentagem de baixas no
combate aos nazis foram a Rússia, a Jugoslávia e a Grécia. Um movimento nazi
indígena na Grécia é uma afronta à nossa História.” Mas a combinação da implosão
económica e da humilhação nacional – “como vocês, europeus, dizem, os
gregos são um caso perdido de aldrabões do fisco e preguiçosos, não é?” –
pode levá-la ao poder.
E para onde iria Varoufakis? “De volta para a universidade”, diz,
encolhendo os ombros. Sente falta de ter tempo para ler e de correr na rua sem
ser detido por cidadãos que querem contar-lhe as suas histórias pessoais.
(Diz-me que está morto por ir ao ginásio: “Limpa-me a cabeça como mais nada”)
Com a sua bela Danae, ainda come em esplanadas de Atenas sem seguranças, mesmo
depois do incidente de abril em que foi cercado e ameaçado por anarquistas.
Embora nos dias que correm tenha muito pouco tempo para gozar o seu pequeno
barco e outros prazeres da vida. Depois de uma sessão fotográfica para a “Paris
Match” de que hoje se arrepende, foi criticado por ousar comer peixe no
seu terraço durante a crise. “Não sou católico - não acredito no purgatório e
na autoflagelação. As pessoas dizem-me, 'Foste apanhado a beber vinho'. E daí?”
Entretanto, o telefone toca. Em Bruxelas e Berlim e Washington,
banqueiros e burocratas dão voltas à cabeça para saberem como lidar com este
político relutante que continua a subverter o paradigma dominante, porque ele e
o seu país sentem que têm tudo a perder.
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