James K. Galbraith e Aurore Lacq em Le Monde 2011-12-13
[La crise de la zone euro est une crise bancaire qui a pris la forme d'une série de crises des dettes souveraines. Une crise aggravée par des idées économiques réactionnaires, une architecture défectueuse et un climat politique toxique. Comme la crise américaine, elle est le fruit de ...]
(tradução)
A crise da zona euro é uma crise bancária que assumiu a forma de uma série de crises de dívida soberana. Uma crise agravada pelas ideias reaccionárias em economia, por uma arquitectura com falhas e um clima político tóxico. Como a crise americana, é o resultado de empréstimos laxistas destinados a mutuários de fracos rendimentos: a habitação em Espanha, o imobiliário comercial na Irlanda, o sector público na Grécia. Os bancos europeus beneficiaram com os efeitos de alavancagem oferecidos pelos activos tóxicos americanos.
Quando os países entraram em colapso, os bancos decidiram livrar-se das obrigações dos Estados mais frágeis em benefício dos países mais fortes para preservarem a sua rentabilidade, o que mergulhou a União Europeia na crise.
Neste tipo de crise, o primeiro reflexo dos bancos é o de fingir surpresa antes de culparem os seus clientes pela sua imprudência ou até mesmo pelo seu engano. Isto esconde o fato de que durante muito tempo os banqueiros concederam empréstimos com demasiada facilidade, com a intenção de embolsarem óptimas comissões. Esta estratégia dos bancos funciona muito melhor na Europa que os Estados Unidos, devido às fronteiras nacionais que separam devedores dos credores e às ligações entre os dirigentes políticos e os grandes bancos nacionais que de repente nem sequer hesitem em difundir estereótipos racistas.
Na base deste poder bancário, há uma corrente de pensamento e de políticos que consideram os excedentes como um sinal de virtude e consideram os défices como sendo um sinal de vício, um fetiche da desregulamentação, das privatizações e dos ajustamentos pelo mercado. O norte da Europa realmente tem esquecido que a integração económica tem sempre como seu efeito a concentração da indústria nas regiões mais ricas.
A Alemanha e a França estão agora armados em professores face aos países endividados: rigor salarial, cortes orçamentais. Lições que se tornaram as injunções do Fundo Monetário Internacional e do Banco Central Europeu (BCE): os novos pobres endividados já não vivem numa democracia.
A arquitectura da zona euro agrava a crise de duas maneiras: primeiro, os fundos estruturais são demasiado fracos para corrigir as desigualdades regionais e os seus pagamentos estão bloqueados, porque as condições de co-financiamento são difíceis de preencher. Faltam também os mecanismos inter-regionais de redistribuição para as famílias, como aqueles que são criados nos Estados Unidos: reformas, Medicare, Medicaid, etc.
Em seguida, o BCE recusa-se a resolver esta crise através da compra de títulos dos países fragilizados – em nome do princípio segundo o qual ajudar estes Estados é estar a incentivá-los a endividarem-se, um argumento reforçada pelos temores de inflação. A zona euro, portanto, preferiu lançar-se na criação de um gigantesco CDO (títulos de dívida colateralizados - Collateralized Debt Obligation) que é o Fundo Europeu de Estabilidade Financeira.
No entanto, existem soluções técnicas, por exemplo a "modesta proposta" de Yanis Varoufakis (Professor de economia, Universidade de Atenas) e de Stuart Holland (antigo parlamentar britânico e professor na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra) que sugere converter até 60% do PIB da dívida de cada um dos países da zona do euro em títulos europeus emitidos pelo BCE, de recapitalizar e de europeizar o sistema bancário e de lançar um New Deal com o Banco Europeu de Investimento. Pode se também pensar em estabelecer um direito de falência nacional (Raffer. Kunibert), em fazer do BCE um "grupo público para o serviço de interesse geral e do desenvolvimento" como a Caisse de dépôts (Thomas Palley) ou um imposto sobre os lucros dos bancos (Jan Toporowski).
Destas boas ideias nenhuma será posta em prática. Porque na Europa, os termos do debate são completamente fechados, às novas ideias, enquanto a sobrevivência política assenta na capacidade de " arrumar a casa" quanto às contas públicas. Tudo é feito para não enfrentar a realidade: a crise bancária. Cada reunião europeia conduz à adopção de submedidas pérfidas e de verdadeiras fugas para a frente. Quanto ao destino dos países mais fracos, é melhor ser considerado como dano colateral, ou mesmo como um mal necessário.
A Grécia e a Irlanda estão em vias de ficarem destruídos. Portugal e a Espanha estão em farrapos, a crise propaga-se à Itália e a França debate-se para tentar retardar a perda do seu AAA. Se houvesse uma forma simples de sair do euro, a Grécia já o teria feito. O único país que poderia optar por esta via é a Alemanha.
Para os outros, trata-se de escolher entre o cancro ou um ataque cardíaco, a menos que haja uma mudança radical na Europa do Norte mas dado que nenhum dos partidos socialistas alemão ou francês está em condições de aceder ao poder , estes não parecem estar em condições de ser capaz de a fornecer. Então, caminha-se para uma explosão social, acompanhada de um pânico financeiro e de um retorno inexorável de emigração. Resta apenas poder contar com a capacidade dos cidadãos europeus em se defenderem.
Não façam o mesmo erro histórico do que nós. Quando os Estados Unidos decidiram intervir no Iraque, a velha Europa não hesitou em dizer que o nosso país cometia um erro. Isto foi um alívio para os adversários da guerra, mas foi uma afronta para o governo. Hoje, é um americano da velha América, um americano da guerra civil, um americano do New Deal, que tenta dizer aos seus amigos europeus que eles estão a cometer um erro histórico ao recusarem-se a ouvir ideias de bom senso que consistem em fazerem, na verdade, rapidamente frente a uma situação excepcional.
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