Quando Barros Moura morreu, em 25 de Março de 2003, com 58 anos de idade, publiquei no jornal "O Público", o artigo seguinte:
Barros Moura - O género de político que faz falta. José Barros Moura travou a sua última batalha com a coragem e o denodo que se lhe conhecia no combate político. Ele sabia que a hora fatal chegara mas não sucumbiu. Olhou a morte de frente e usou todas as suas forças na humana e vã tentativa de a vencer. Até ao último momento. Na madrugada de ontem.
Há batalhas que se não podem ganhar. Também na sua vida política apesar das muitas vitórias perdeu alguma batalhas. É certo que ele era o célebre IBM (Inteligente Barros Moura), cognome que lhe ficara dos bancos da universidade em Coimbra mas, convenhamos, faltava-lhe alguma “inteligência”. Ou antes, recusava-se a usá-la. Aquela “inteligência” guia dos que andam na política para, acima de tudo, tratarem da sua vidinha. Era uma falha em Barros Moura... Era uma fonte de admiração e respeito por Barros Moura! Alguns dos seus amigos sabiam desta sua assumida imprudência. E compraziam-se. Reviam-se nela.
Barros Moura defendia princípios, lutava por convicções. Mesmo - excêntrica ousadia! - contra os poderes instalados. Isso fatalmente o impediria de vencer algumas batalhas. No PCP, a defesa das convicções contra a “convicção” da Direcção valeu-lhe a expulsão em Novembro de 1991. E no PS, por exigir transparência em Felgueiras custou-lhe a exclusão, nas últimas eleições legislativas, da lista de deputados no Porto e a não eleição para a Assembleia da República. Magoou-o mas não o venceu. Por tudo isto Barros Moura era um exemplo na política portuguesa por isso ganhou a estima e amizade de muitos e o respeito de todos.
Tornou-se uma referência no panorama político português, quando ao ser expulso do PCP, por escrúpulos de ordem ética, sem que politicamente nada o obrigasse, entregou o seu lugar de deputado no Parlamento Europeu ao PCP, mostrando que não estava ali pelo dinheiro mas pela política.
Barros Moura foi Líder nas lutas académicas em Coimbra contra o fascismo, membro do núcleo duro do MFA na Guiné como oficial miliciano, deputado do Parlamento Europeu na bancada do PCP e depois do PS, deputado e membro da direcção parlamentar do PS na anterior legislatura. Barros Moura tornava-se notado pela sua inteligência, rigor e elevada prestação.
Barros Moura é o género de político que faz falta. E deixa saudade.